Comer laranja depois da feijoada ajuda na absorção do ferro do feijão?
A feijoada aos sábados (e também às quartas, em alguns lugares) é uma tradição no Brasil. O prato pode ser consumido com a família no boteco, no restaurante ou mesmo em casa. E é comum que, além da couve, vinagrete e farofa, o prato também tenha como acompanhamento a laranja. A verdade é que essa combinação que, para muitos, pode soar esquisita, é muito positiva do ponto de vista nutricional.
Para entender o motivo é preciso compreender que encontramos o ferro em duas formas químicas diferentes nos alimentos. Há o ferro orgânico, também chamado de "ferro heme", e o inorgânico, conhecido como "não-heme".
O ferro orgânico é aquele encontrado principalmente nas fontes de proteína animal, como carne vermelha, peixe, frango e ovos, e tem na sua estrutura componentes que facilitam com que esse mineral seja absorvido pelo organismo.
Já o ferro inorgânico está presente nos grãos, como feijão e grão-de-bico, e também nas leguminosas, como couve e brócolis, no entanto, esse tipo de ferro é pouco absorvido pelo corpo. No entanto, é possível potencializar esse processo.
Laranja e outras fontes de vitamina C
Então de que forma a laranja auxilia que os alimentos ricos em ferro inorgânico possam ser mais absorvidos pelo organismo? O responsável por esse feito é ácido ascórbico ou vitamina C para os íntimos.
Esse ácido oxida o ferro e faz com que ele fique mais solúvel e, assim, seja absorvido com maior facilidade pelo organismo.
Ainda que a laranja seja a fruta mais queridinha para acompanhar a feijoada, a verdade é que qualquer outra fonte de vitamina C também é uma boa combinação para esse momento. Ou seja, limão, morango, tangerina, kiwi, goiaba e acerola, fruta com a maior concentração de vitamina C, também podem ser consumidas para ter esse benefício.
Uma rodela não faz verão!
Se seu objetivo é potencializar a absorção de ferro durante a feijoada, saiba que pouco adianta consumir apenas uma rodela de laranja. O ideal é ingerir uma porção da fruta inteira após a refeição, sempre levando em consideração as recomendações nutricionais.
Além disso, também vale consumir o suco de laranja ou acerola durante a refeição e até espremer um limão sobre o feijão enquanto degusta o prato. Dessa forma, você garante uma absorção adequada do ferro inorgânico.
Já no caso do ferro orgânico, aquele presente em carnes e ovos, não há necessidade desses cuidados para potencializar a absorção pelo organismo, já que o "ferro heme" está em estado pronto para ser absorvido pelo corpo.
Veganos, vegetarianos e pessoas com deficiência de ferro
Para os veganos e vegetarianos, que tem uma alimentação sem fonte de ferro de origem animal, é ainda mais importante inserir os alimentos fontes de vitamina C no prato para não ficar com anemia ferropriva, um tipo de anemia que acontece devido à falta de ferro no organismo, diminuindo a quantidade de hemoglobina e, consequentemente, hemácias, que são as células do sangue responsáveis por transportar oxigênio aos tecidos do corpo.
Uma outra recomendação para potencializar a absorção de ferro do feijão é deixar o grão de remolho de oito a 12 horas, já que esse processo reduz substâncias que atrapalham na absorção do mineral.
Além disso, é importante se atentar para não associar alimentos que são fontes de cálcio, como leite e derivados, em uma refeição rica em ferro inorgânico, pois as propriedades do cálcio também podem impactar na absorção do ferro.
Por fim, para quem tem deficiência de ferro, além de consumir a vitamina C e seguir as dicas acima, também é importante evitar o famoso café logo depois do almoço, pois ele também pode dificultar a absorção. É um hábito gostoso, mas se você estiver tratando uma anemia, ou tiver alguma outra condição, o ideal é aguardar um pouco mais para, aí sim, tomar seu merecido café!
Fontes: Durval Ribas Filho, médico nutrólogo e presidente da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia); Mayara Ferreira, nutricionista do Hospital das Clínicas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), unidade vinculada à Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); e Monica Venturineli, nutricionista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
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