Claritromicina: antibiótico é opção terapêutica para alérgicos à penicilina
Resumo da notícia
- Trata-se de um fármaco que combate variadas infecções das vias aéreas e pele, entre outras
- Os efeitos colaterais mais comuns são náuseas, diarreia, vômito e cólicas estomacais
- Espera-se efeito já após 2 horas da administração, o que leva à melhora geral em poucos dias
- Metabolizada pelo fígado, é desaconselhado o consumo de álcool durante o tratamento
Desenvolvida no Japão em 1984, a claritromicina é um antibiótico utilizado para o tratamento de infecções bacterianas, como a otite e a faringite, entre outras enfermidades.
O que é claritromicina?
Trata-se de um fármaco que compõe o grupo dos macrolídeos, uma classe de antibióticos derivados de Saccharopolyspora erythraea (originalmente chamado Streptomyces erythreus), um tipo de bactéria do solo.
Dadas as características desse medicamento ele só deve ser utilizado sob receita médica.
Em quais situações ele deve ser usado?
O fármaco é utilizado há mais de 30 anos e seus efeitos são bastante conhecidos. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e pelo tempo adequado.
A medicação pode ser indicada no tratamento de infecções causadas por todos os microrganismos sensíveis à claritromicina. Veja alguns exemplos:
- Faringite e sinusite (infecções das vias aéreas superiores)
- Bronquite e pneumonia (infecções das vias aéreas inferiores)
- Foliculite, erisipela, celulite (infecções de pele e tecidos moles)
Algumas diretrizes médicas internacionais também indicam que ele poderá ser utilizado em outros quadros como na prevenção de infecção por Mycobacterium avium complex, que pode afetar os pulmões de pessoas com HIV.
Além disso, em combinação com outras medicações, poderá ser útil no combate ao H. pylori, uma bactéria que pode causar úlcera, entre outras situações.
A claritromicina não deve ser usada no tratamento de gripes, resfriados e nem em outras infecções virais, a não ser quando devidamente indicado pelo seu médico. Por vezes, ela também é uma opção terapêutica para pessoas que sejam alérgicas à penicilina ou similares a ela, como a amoxicilina.
Entenda como ela funciona
Após a administração por via oral, a claritromicina é metabolizada pelo fígado e, após cumprir sua função, ela é excretada em parte pela via renal. Espera-se que seus efeitos já possam ser observados após 2 horas da ingestão da dose.
Para combater a infecção, o fármaco impede o crescimento bacteriano por meio da inibição de sua síntese proteica, o que só é possível porque a claritromicina tem a capacidade de se ligar a estruturas presentes nas células (subunidade 50S do ribossomo) —que são responsáveis pela produção de proteína celular. A explicação é de Cláudia Cristina Pereira de Araújo, delegada regional da Seccional da Zona Sul do CRF-SP.
Por quanto tempo vou usar esse medicamento?
O otorrinolaringologista Luiz Fernando Lourençone diz que o tratamento com a claritromicina poderá durar de 5 a 7 dias nos casos mais leves, sem outras doenças associadas.
Já nos quadros mais graves, em que estejam presentes outras enfermidades, esse tempo é maior, podendo chegar a até 14 dias —e até mais— quando é preciso prevenir complicações em pacientes com doenças pulmonares crônicas.
"O importante é seguir o plano de tratamento indicado pelo seu médico", diz Lourençone.
O especialista acrescenta que as bactérias, assim como os vírus, têm grande capacidade de mutação. Isso significa que quando a terapia com antibióticos é interrompida, porque houve esquecimento ou o paciente observa uma melhora, o resultado é o crescimento bacteriano, o que promove mecanismos de resistência.
"O que acontece é que a bactéria fica mais resistente à ação do antibiótico, a pessoa leva mais tempo para responder ao tratamento e, pior, em um futuro quadro de infecção grave, o medicamento pode não ter a força para combatê-la", completa o médico.
Conheça as apresentações disponíveis
Klaricid® é a marca de referência do claritromicina. Mas você pode encontrar as versões genéricas.
O medicamento consta da Rename 2022 (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais) e pode ser obtido por meio do SUS (Sistema Único de Saúde), bastando apresentar a receita médica para ter acesso a ele.
Confira as apresentações e doses disponíveis:
- Cápsula 500 mg
- Comprimidos 250 mg e 500 mg
- Comprimido de liberação prolongada 500 mg
- Suspensão oral 50 mg/ml
O esquema de doses é sempre personalizado. Evite aumentá-lo, reduzi-lo ou mesmo automedicar-se durante uma crise sem prévia orientação médica.
Quais são as vantagens e desvantagens desse medicamento?
Os especialistas consultados relatam que a claritromicina é considerada segura e eficaz, e ainda possibilita um bom esquema de doses (pode ser usada 1 ou 2 vezes ao dia), o que ajuda na adesão ao tratamento. Além disso, ela é uma alternativa para pacientes com histórico de hipersensibilidade à penicilina.
Apesar dessas vantagens, ela nem sempre é a primeira escolha dos médicos. A razão para isso é seu alto custo e, por vezes, a dificuldade de acesso a ela junto às farmácias do SUS.
Saiba quais são as contraindicações
De modo geral, o grupo de medicamentos a que a claritromicina pertence é considerado seguro, mas existem algumas contraindicações relacionadas ao perfil de seus efeitos colaterais e interação com alguns medicamentos.
Assim, o fármaco não deve ser usado por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenha tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro componente de sua fórmula.
Fique também atento na presença das seguintes condições:
- Gravidez
- Amamentação
- Icterícia (atual ou no passado)
- Doenças do fígado ou rins
- Arritmia
- Baixos níveis de magnésio ou potássio no sangue
- Miastenia (fraqueza muscular)
- Doença arterial coronariana
- Alergia à lactose
Crianças e idosos podem usá-lo?
Sim, a claritromicina pode ser utilizada em populações pediátrica e geriátrica, sob estrita prescrição do médico, que deve utilizar doses adequadas para essas faixas etárias. Entre os idosos, que geralmente fazem uso de outros medicamentos, é preciso estar atento às interações medicamentosas que poderiam prejudicar o tratamento e órgãos como rins e fígado.
Estou grávida e pretendo amamentar. Posso usar claritromicina?
O fabricante adverte que o medicamento se classifica na categoria de risco D —o que significa que há evidência de risco para o feto. No entanto, a depender do quadro que se apresenta, cabe ao médico avaliar a relação de risco e benefício para a grávida ou lactante do uso da claritromicina.
Eventualmente, ele poderá optar por outro fármaco com melhor perfil de segurança para a gestante e o bebê.
Qual é a melhor forma de consumi-lo?
O medicamento deve ser administrado nos mesmos horários todos os dias e de acordo com o esquema de doses indicado pelo médico. Evite aumentar ou reduzir as doses prescritas pelos especialistas, assim como o tempo de tratamento.
A suspensão deve ser misturada corretamente, podendo ser administrada com leite. Já os comprimidos convencionais podem ser ingeridos independentemente das refeições. Quanto aos comprimidos de ação prolongada, a sugestão é dar preferência para o uso junto aos alimentos. Ele deve ser engolido inteiro, e não mastigado, quebrado ou esmagado.
Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?
Não. O importante é que o claritromicina seja utilizada na forma indicada pelo médico e orientada pelo farmacêutico.
O que faço quando esquecer de tomar o remédio?
Tome-o assim que lembrar e reinicie o esquema de uso do medicamento. É desaconselhado tomar doses em dobro de uma vez para compensar a dose que foi esquecida.
Se você sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.
Quais são os possíveis efeitos colaterais?
Este medicamento é considerado bem tolerado, seguro e eficaz quando usado em doses adequadas e pelo menor tempo possível. Apesar disso, os efeitos colaterais mais comuns são náuseas, vômito, dor abdominal, diarreia, azia, gases, dor de cabeça e mudanças no paladar.
Menos comuns, as seguintes manifestações também poderão ser observadas:
- Coceira
- Boca seca
- Alteração do ritmo cardíaco
- Zumbido
- Tontura
- Sonolência
- Mudança no apetite
- Candidíase e infecção vaginal
Interações medicamentosas
Algumas medicações não combinam com a claritromicina. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito.
Avise o médico, o farmacêutico ou dentista, caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas, que são apenas alguns exemplos dessas possíveis interações. Confira:
- Indutores da CYP3A4 (rifampicina, fenobarbital)
- Ansiolíticos (como o alprazolam)
- Antiarrítmicos (amiodarona, digoxina)
- Anti-histamínico (astemizol)
- Estatinas (atorvastatina, lovastatina)
- Esteroides glicocorticoides (budesonida)
- Antiepiléticos (carbamazepina)
- Antimalárico (cloroquina, hidroxicloroquina)
- Hipotensivos (cilostazol)
- Antidepressivos (citalopram, escitalopram)
- Imunossupressores (ciclosporina)
- Outros antibióticos (eritromicina)
- Opioides (fentanil, morfina, oxicodona)
- Antialérgicos (fluticasona nasal)
- Antipsicóticos (haloperidol)
- Glucocorticoides (metilprednisolona)
- Broncodilatadores (salmeterol)
- Corticosteoides (triancinolona)
- Antineoplásicos (vincristina)
- Anticoagulantes (varfarina)
Embora não existam muitos dados na literatura médica sobre interação com suplementos, sabe-se que um fitoterápico, a erva de São João (Hipérico), pode reduzir o efeito da claritromicina.
Antes de iniciar o tratamento com a claritromicina, informe ao médico ou ao farmacêutico sobre eventual uso desses produtos.
Interação com o álcool
A claritromicina é um medicamento metabolizado pelo fígado e, por isso, o consumo de álcool, mesmo que moderado durante o tratamento, poderia sobrecarregar o órgão e, eventualmente comprometer o resultado esperado. Como, geralmente, ele é usado por pouco tempo, o melhor é abster-se durante a terapia.
Interação com exames laboratoriais
De acordo com a farmacêutica Amouni Mourad, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e assessora técnica do CRF-SP, exames que avaliam o tempo de coagulação (protrombina) e funções dos rins (ureia e creatinina), podem ter seus resultados alterados durante o tratamento com a claritromicina.
Como algumas condições requerem maior tempo de uso desse medicamento, a sugestão é que você informe o tratamento ao médico que solicita o exame e aos profissionais do laboratório antes de se submeter ao teste sanguíneo.
Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:
- Observe a validade do medicamento indicado no cartucho. Lembre-se: após a abertura, alguns fármacos têm tempo de validade menor, o que também é influenciado pela forma como você o armazena;
- Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
- Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta;
- Em caso de cápsulas, não as abra para colocar o conteúdo em água, alimentos ou mesmo para descartar. Sempre use a cápsula íntegra;
- No caso de suspensões orais, agite bem o frasco antes de usar. E sempre limpe o copo dosador antes e após o uso. E armazene junto ao frasco do medicamento, para evitar misturar com outros medicamentos;
- Prefira comprar remédios nas doses justas para o uso indicado para evitar sobras;
- Respeite o limite da dosagem diária indicada na bula;
- Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
- Guarde seus remédios em compartimentos altos. A ideia é dificultar o acesso às crianças;
- Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
- Evite descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.
O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.
Fontes: Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia de São Paulo); Cláudia Cristina Pereira de Araújo, delegada regional da Seccional da Zona Sul do CRF-SP e vice-coordenadora do GTT (Grupo Técnico de Trabalho) Vigilâncias da mesma instituição; Luiz Fernando Manzoni Lourençone, otorrinolaringologista, diretor clínico do HRAC-USP (Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais-Centrinho da Universidade de São Paulo em Bauru) e professor do curso de medicina da FOB-USP (Faculdade de Odontologia da mesma instituição). Revisão técnica: Amouni Mourad.
Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); Patel PH, Hashmi MF. Macrolides. [Atualizado em 2021 Aug 14]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK551495/.
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