Precisa mesmo ficar sem comer algumas coisas depois de fazer tatuagem?
Tribal, geométrica, minimalista, oriental, realista, abstrata. Seja qual for o estilo, a tatuagem caiu no gosto popular e, embora pareça um sinal de juventude, é uma tradição ancestral, cuja prática na humanidade remonta há 3.000 anos a.C.. No entanto, antes de optar por fazer uma tatuagem no corpo, é necessário se ater a alguns cuidados, desde a escolha não só do desenho, como do tatuador e do estúdio onde irá fazer o procedimento, até os cuidados pós-tatuagem, incluindo a alimentação.
Tatuar é gravar na pele um desenho, um procedimento que se dá por microagulamento, de forma que a pele sofre uma espécie de lesão, devendo passar por um período de cicatrização. Para que esse processo ocorra da melhor maneira possível, o organismo precisa estar fortalecido com nutrientes que colaborem na sua recuperação, evitando assim infecções ou inflamações. Por isso, uma alimentação adequada e balanceada, além de cuidados especiais são fundamentais pós-tatuagem.
No entanto, de acordo com a literatura médica, não há nenhum estudo ou pesquisa que restrinja determinados alimentos a pacientes recém-tatuados. "Esse é um tema controverso, pois os cuidados na alimentação valem para qualquer processo de cicatrização, não necessariamente a pessoas tatuadas", afirma Luis Antonio Ribeiro Torezan, médico dermatologista. "Um paciente que sofreu uma queimadura, por exemplo, e que se submeteu a uma cirurgia, está em processo de cicatrização, o que requer uma alimentação mais balanceada, mais natural, livre de gordura e gordura saturada", explica.
Em uma dieta mais saudável, deve-se evitar o excesso de carnes processadas (presunto, salsicha, hambúrguer industrializado), frituras, refrigerantes, alimentos embutidos, doces, massas, congelados que contenham muito conservantes e corantes, caldo de carne em cubo, frutos do mar e bebidas alcoólicas. "Algumas das substâncias contidas nesses alimentos podem causar um quadro alérgico e o paciente pode vir a sentir coceira pelo corpo todo, inclusive na tatuagem, aumentando assim o risco de uma infecção local, na tinta que recebeu na pele", ressalta Torezan.
Assim, sempre que houver um processo cicatricial ocorrendo no organismo, como a recuperação de tatuagens, convém evitar dietas ricas em alimentos pró-inflamatórios. "Uma dieta inflamatória ou alergênica pode agravar o processo inflamatório esperado pós-tatuagem e ainda impactar negativamente no resultado esperado", diz a nutróloga Marcella Garcez.
De acordo com a nutricionista Natália Magalhães, é recomendável suspender esses alimentos inflamatórios por um mês, após realizado o procedimento.
E se a pessoa consumir?
Em todo processo de cicatrização, alguns alimentos devem ser evitados, uma vez que podem interferir na recuperação. Caso sejam consumidos de forma excessiva e constante, podem desencadear o surgimento de alguns problemas, como colesterol alto, diabetes e aterosclerose, além de inchaço e vermelhidão no local, coceiras, dor, febre, pus e formação de queloide. Por isso, a alimentação saudável deve ser levada em conta e mantida, mesmo após a cicatrização.
Mas se o consumo ocorrer de forma pontual após o procedimento, não é preciso alarde. Note se há algo estranho e, "se ocorrer algum quadro alérgico, tome bastante água para tirar o excesso do alimento e procure um médico dermatologista", recomenda Torezan. Antialérgicos também auxiliam no quadro, mas mediante orientação médica, assim como corticoides sistêmicos.
Garcez adverte que, se houver consumo de grande quantidade de alimentos inflamatórios, o processo cicatricial pode levar mais tempo. "E se estiver associado ao consumo de alérgenos, após a cicatrização a tatuagem poderá apresentar irregularidades", destaca.
Como ter uma boa recuperação
Uma alimentação adequada e balanceada deve ser mantida por toda a vida. No entanto, para que a função imunológica seja melhorada e a taxa de infecção reduzida, recomenda-se o consumo de alimentos anti-inflamatórios e ricos em antioxidantes, como frutas vermelhas, frutas cítricas e abacate, diz Magalhães.
Também entram nessa lista os alimentos ricos em ômega 3, como os peixes de água fria, sementes e nozes, não esquecendo do consumo adequado de água. "A hidratação da pele se faz, principalmente, com a água que entra pela boca", orienta Garcez.
Os cuidados tópicos como o uso de protetores solares e creme hidratante também são importantes neste momento. Alguns produtos nutricosméticos, com efeitos de fotoproteção oral ou anti-inflamatórios, podem ser indicados. "É fundamental também não tomar banho de mar ou piscina e fazer uso de pomadas cicatrizantes até que a ferida esteja sarada", aconselha Magalhães.
A tatuagem é um procedimento que, além de escarificar a pele, inocula pigmentos no compartimento dérmico. "Assim, é necessário um tempo de recuperação e cicatrização dos danos, que geralmente pode levar de um a dois meses, porém é possível que demore mais tempo, se os cuidados com a pele forem negligenciados", reforça Garcez, lembrando que os cuidados com a alimentação e a pele devem fazer parte do estilo de vida.
É importante frisar que fazer tatuagem é uma decisão que deve ser muito bem pensada e planejada. Primeiramente, é necessário ter certeza do desejo, depois escolher um profissional gabaritado, de preferência com referências, como pessoas conhecidas já terem feito tatuagens com o tatuador em questão.
Outra recomendação é na escolha da tatuagem, principalmente se for a primeira, evitando usar cores muito diferentes e fortes. "Por exemplo, amarelo e vermelho apresentam mais riscos de alergia pela presença de corantes na sua formulação, assim como tatuagens grandes, que podem desencadear quadro alérgicos maiores", avisa Torezan.
Deve-se evitar também a exposição ao sol, principalmente nos 15 ou 20 primeiros dias após a realização da tatuagem. "Use protetor solar e tome cuidado ainda com sujeira no local para evitar os riscos de contaminação. Tudo isso é necessário, já que o procedimento é feito por microagulhamento", adverte o dermatologista.
Atente-se ao local e profissional
Hoje em dia existem as normas de vigilância e regulamentação dos estúdios que tornam a atividade mais segura e precisa, no entanto convém lembrar que sempre há o risco de problemas à pele e à saúde, em razão da pigmentação por microagulhamento.
Entre os riscos, estão infecção no local, queloides em pacientes que têm antecedentes de cicatrização hipertrófica, transmissão de doenças infectocontagiosas, disseminação de verrugas virais e molusco contagioso. "Hoje, com a regulamentação, os estúdios se aprimoraram muito, e as técnicas de assepsias diminuíram muito esses riscos, mas é preciso cuidado", pondera Torezan.
Tatuagem é definitiva, assim, é necessário fazer com um profissional bastante competente, com estúdio regulamentado. Se for possível, convém verificar os produtos que serão utilizados para a tatuagem e conhecer os componentes da tinta, para evitar quadro alérgico de base por algum deles, ou cruzado, quando faz uso de uma medicação semelhante que pode alergizar a área da tatuagem. Certificar da assepsia local, antes, durante e após o procedimento é fundamental.
Idosos precisam ter os cuidados redobrados, pois se apresentarem problemas cardíacos e tomarem anticoagulante, haverá uma inibição da cascata da coagulação, consequentemente perfurações na pele e traumas podem levar a sangramentos. "É importante consultar o médico cardiologista ou clínico geral que o acompanha para evitar riscos maiores e verificar o melhor procedimento", diz Torezan.
Fontes: Luís Antonio Ribeiro Torezan, médico dermatologista, coordenador do Departamento Laser da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia): Marcella Garcez, médica nutróloga, professora e diretora da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia); Natália Magalhães, nutricionista e professora do curso técnico de Nutrição no Recife (PE).
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