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Candidíase: cortar o açúcar e apostar no iogurte diminui os sintomas?

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Imagem: iStock

Samantha Cerquetani

Colaboração para o VivaBem

06/05/2022 04h00

É bastante comum conhecer uma mulher que teve algum episódio de candidíase na vida. Causada pelo fungo Candida albicans, a infecção provoca sintomas desagradáveis como coceira intensa na vagina, além de inchaços, ardência e corrimentos. Geralmente, o problema surge quando esse microorganismo se prolifera no organismo de forma excessiva.

Basicamente, para que o fungo se fortaleça, é preciso que esteja em um ambiente úmido e mais quente e também que a mulher apresente um sistema imunológico fragilizado. Mas o que ela decide colocar no prato também gera condições adequadas para que o microorganismo se reproduza mais facilmente, dificultando até mesmo a sua recuperação.

"Muitos fatores causam o desequilíbrio do pH vaginal e provocam a doença. Há uma íntima ligação da infecção com uma microbiota intestinal enfraquecida. Por isso, uma dieta inadequada piora os sintomas", explica Fernanda Schier de Fraga, ginecologista e professora da Escola de Medicina da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).

A seguir, veja como a dieta pode diminuir ou agravar os sintomas de candidíase.

Açúcar e da farinha branca têm relação com problema?

Não é novidade que consumir açúcar em excesso prejudica a saúde. No entanto, ele também contribui para a proliferação do fungo que causa a candidíase, ao tornar o pH da flora vaginal mais ácida. Por isso, a recomendação é evitar doces refinados, refrigerantes, biscoitos, entre outros itens açucarados.

A mesma atenção vale para a farinha branca e derivados: os carboidratos simples liberam glicose rapidamente no organismo, o que é prejudicial para quem já possui a tendência a ter candidíase. "O consumo excessivo de carboidratos refinados, como farinhas e açúcar, geralmente está associado com a candidíase recorrente ou de repetição. Isso ocorre pelo fato da glicose ser um dos principais substratos para o crescimento da Candida albicans", explica Solange Mayumi Fukumoto, nutricionista da Rede de Hospitais São Camilo de SP. O ideal é optar por alimentos integrais.

A lista de alimentos que se deve evitar durante uma crise de candidíase inclui:

  • Frutas com alto teor de açúcar como abacaxi, banana, uva e manga;
  • Carnes processadas como salsicha, linguiça e presunto contêm aditivos, além de sódio em excesso. Ambos aumentam as inflamações do corpo e afetam a imunidade, deixando a pessoa mais suscetível ao fungo;
  • Bebidas alcoólicas não são recomendadas por afetar o sistema imune e deixar o sangue mais ácido.

"Além disso, a recomendação é não consumir itens de digestão mais complexa, como carnes vermelhas e laticínios", complementa Iza Charla, nutricionista e conselheira do CRN-5 (Conselho Regional de Nutricionistas - Bahia e Sergipe).

Iogurte natural cura a candidíase?

Provavelmente, a mulher que tem candidíase de repetição, ou seja, que com frequência, já ouviu que o iogurte é benéfico e pode até mesmo curar a condição. De acordo com Fraga, a questão é delicada e merece atenção.

"O iogurte natural também possui açúcar e aumenta o índice glicêmico do organismo. Há casos de mulheres que chegam a fazer tampões, inserindo o alimento diretamente na vagina. No entanto, não há comprovação científica do benefício", destaca a ginecologista.

O que se sabe é que alimentos ricos em probióticos, como iogurte, kefir, kombucha e leites fermentados, restabelecem o equilíbrio da microbiota e ajudam a reduzir a quantidade de fungos e bactérias nocivas, além de estimular o sistema imunológico.

"É necessária a avaliação de possível quadro de disbiose (desequilíbrio da microbiota intestinal) para adequada utilização de probióticos para ajudar a recompor a barreira intestinal. Dessa forma, evitará a proliferação fúngica e aumentará a resposta imunológica", complementa Charla.

Alimentos para consumir com mais frequência

Para evitar uma crise de candidíase ou controlar os sintomas, as especialistas reforçam que manter uma alimentação equilibrada nutricionalmente pode ajudar. É importante consumir vegetais, frutas com baixo índice glicêmico, proteínas magras e gorduras saudáveis.

Além disso, é importante investir em itens que sejam fonte de ômega 3, que ajuda a diminuir as inflamações. Neste caso, é preciso incluir com mais frequência nas refeições as sementes como chia, linhaça e também alguns peixes como atum ou salmão.

"O óleo de coco também auxilia na redução da colonização pela Candida albicans, já que ele contém nutrientes como os ácidos láurico e caprílico. As especiarias também combatem os fungos. Entre elas podemos citar o orégano, a canela, o alecrim, o gengibre e a cúrcuma", diz Fukumoto.

Apesar destas recomendações, vale destacar que não existe uma dieta específica para candidíase. "A mulher que apresenta o problema de saúde mais de quatro vezes ao ano (candidíase de repetição) deve realizar um acompanhamento com nutricionista e também com ginecologista. Nesses casos, é feito um trabalho em conjunto para aliviar os sintomas", explica Fraga.

Será que eu tenho candidíase?

O diagnóstico da candidíase é realizado por meio de exame físico feito pelo ginecologista. É comum que, além da coceira intensa, a mulher apresente um corrimento esbranquiçado e em grumos (que lembra leite coalhado).

Sabe-se que as mulheres que têm diabetes, tomam antibióticos ou medicamentos imunossupressores, além daquelas que usam roupas muito justas, estão mais propensas à infecção. Além disso, as gestantes e com obesidade costumam ser mais afetadas devido a questões hormonais.

De acordo com os episódios de repetição e os sintomas, o tratamento envolve mudanças na alimentação e a prescrição de medicamentos antifúngicos, que podem ser orais ou pomadas locais.

De qualquer forma, a recomendação é procurar um ginecologista para checar o que está acontecendo. "Não existe milagre no tratamento da candidíase. A mulher vai precisar mudar os hábitos alimentares e de vida para combater o desconforto de forma eficiente", diz a ginecologista.