Amigdalite não pode ser confundida com dor de garganta; entenda sintomas
Cristina Almeida
Colaboração para VivaBem
07/01/2022 04h00
A amigdalite, ou inflamação das amígdalas, é considerada uma doença comum e representa 2% de todo atendimento feito nos ambulatórios médicos. Embora se manifeste mais no período do inverno, ela pode aparecer o ano inteiro, acomete homens e mulheres igualmente, e é mais frequente entre crianças e adolescentes.
O incômodo, como o nome diz, afeta as amígdalas, nome dado ao acúmulo de tecido de ambos os lados da parte posterior da garganta. Importantes, elas integram o sistema de defesa que protege o seu corpo contra doenças.
As causas mais comuns se relacionam a infecções virais e bacterianas, que são consideradas autolimitadas. Isso significa que o quadro pode se resolver em pouco tempo sem maiores complicações.
Amigdalite: o que é, sintomas e mais
O que é amigdalite
Trata-se de uma inflamação das amígdalas —um acúmulo de tecido linfático situado nos dois lados da parte posterior da garganta— que funcionam como uma primeira barreira de defesa do corpo contra agentes causadores de doenças inalados ou ingeridos.
Causas da amigdalite
Na maioria das vezes, a inflamação das amígdalas decorre de infecções virais ou bacterianas. No entanto, as virais são mais comuns, especialmente em crianças com idade inferior a 5 anos. Nesses casos, os principais patógenos relacionados são:
- Adenovírus
- Rinovírus
- Vírus sincicial respiratório
- Influenza
- Coronavírus
- Menos frequentes, os vírus Epstein-Barr (mononucleose) e citomegalovírus, o da hepatite A, rubéola e HIV também podem estar envolvidos.
Quando a causa é bacteriana, geralmente ela decorre de uma infecção por estreptococos do grupo A. Outros agentes bacterianos podem ser o Mycoplasma pneumoniae, staphylococcus aureus e Haemophilus SP.
São também possíveis causas:
Sintomas da amigdalite
As manifestações mais comuns da amigdalite são o inchaço das amígdalas, dor de garganta e dificuldade para engolir. Além disso, podem estar presentes as seguintes condições:
- Febre
- Dor ao falar
- Dor de ouvido, no pescoço ou de cabeça
- Mal-estar geral
- Sensação de algo preso na garganta
- Vermelhidão na garganta
- Pontos ou placas de pus
- Outras lesões (a depender da causa)
- Aumento dos gânglios do pescoço
Qual a diferença de dor de garganta e amigdalite?
É comum que pessoas com amigdalite tenham dor de garganta que, por sua vez, também tem causas variadas. Para diferenciar uma coisa da outra e definir o diagnóstico, é preciso que o médico faça o levantamento do histórico de saúde do paciente, além do exame físico para observação do aspecto das lesões nas regiões afetadas.
Quem está mais suscetível à amigdalite?
A amigdalite pode acometer homens, mulheres e crianças igualmente —e de 15% a 30% dos pacientes têm idade entre 5 e 15 anos.
Indivíduos com a imunidade comprometida, doenças crônicas e que tenham hábitos e vícios que afetem diretamente essa região do corpo, como o tabagismo e o álcool, também são mais suscetíveis.
Quando é preciso procurar ajuda médica?
Para boa parte das pessoas, a amigdalite é autolimitada, isto é, se resolve sozinha. No entanto, os especialistas afirmam que os sinais de alerta são febre alta (39°C) que persiste por mais de 48 horas, mesmo após o uso de antitérmicos, dificuldade de abrir a boca e se alimentar, além de dor intensa no corpo e também queda do estado geral.
O ideal é procurar o pronto-atendimento para fazer uma avaliação e descartar infecções mais graves. Ao examiná-lo, o médico facilmente reconhecerá os sinais e sintomas. Algumas vezes, exames de sangue, tomografia de pescoço e face, bem como testes rápidos de bactéria podem auxiliar no diagnóstico, principalmente quando há suspeita de complicações.
Bruno Spadoni, clínico geral e professor da Escola de Medicina da PUC-PR, diz que, até acabar a pandemia, todas as dores de garganta requerem teste para o vírus da covid-19, mesmo que a pessoa já tenha sido vacinada.
"Quando não for possível fazer o teste, é preciso tomar medidas de isolamento até que um médico possa fazer o diagnóstico. Outra possibilidade é você ficar isolado até completar 10 dias (contados desde o início dos sintomas), caso esteja bem após esse período", sugere o especialista.
Que remédio tomar para melhorar amigdalite?
A maior parte dos agentes causadores da amigdalite são virais, portanto o tratamento pode ser conduzido em casa. As medidas a serem adotadas são repouso, boa hidratação e alimentação equilibrada. Podem ser usados medicamentos que aliviam o mal-estar, como antitérmicos e analgésicos.
Os anti-inflamatórios são úteis quando o quadro e o desconforto forem mais intensos, mas o médico deve respeitar os cuidados para o uso desse tipo de fármaco, que são a idade do paciente, uso de outros medicamentos e histórico de alergias a algum de seus componentes.
Nem sempre é necessária a indicação de um antibiótico. Este somente será a opção terapêutica quando houver evidências clínicas ou laboratoriais de infecções bacterianas. Assim, evite a automedicação. A resposta ao tratamento é excelente e, em geral, o quadro se resolve sem complicações.
Quando é o caso de cirurgia para retirada das amígdalas?
A otorrinolaringologista Mayra de Freitas Centelhas Martinelli, integrante do corpo clínico das clínicas Clinoft e Endocap, em São Paulo, diz que, embora a retirada das amígdalas (amigdalectomia) fosse frequente no passado, hoje a sua indicação depende da presença de condições específicas.
"Os critérios são ter tido 5 a 7 infecções no espaço de 1 ano; 4 episódios ao ano por 2 anos consecutivos, ou 3 por ano em 3 anos consecutivos", esclarece a médica.
A literatura sobre o assunto observa que os benefícios de curto prazo dessa estratégia terapêutica são a redução na perda de dias escolares, da dor de garganta e das infecções, mas, no longo prazo, tais melhoras podem ser limitadas. Os dados foram publicados pela revista médica Pediatrics.
Existe remédio caseiro para a amigdalite?
Além de repousar, manter-se hidratado, adotar uma dieta equilibrada, usar um umidificador de ar e do eventual uso de medicamentos para controle dos sintomas, você pode também fazer um gargarejo com água morna e sal.
Para preparar a solução, dilua 1/2 colher de chá de sal de cozinha em 250 ml de água morna. Faça o gargarejo, e depois ejete o líquido. Repita quantas vezes quiser.
"A medida serve até para as crianças, mas é preciso que ela tenha idade suficiente para realizar a prática", adverte Ivan Savioli Ferraz, médico pediatra e docente da USP de Ribeirão Preto.
Dá para prevenir amigdalite?
Como sabemos que a maioria dos microrganismos causadores da amigdalite são contagiosos, é possível reduzir a chance de ser infectado mantendo a carteirinha de vacinação em dia e adotando medidas de higiene como lavar as mãos com frequência, principalmente após o uso do banheiro e antes das refeições.
Uma vez infectado, preserve as outras pessoas do contágio. Fique em casa (quando isso é possível), e cubra a boca e o nariz com o antebraço ao espirrar ou tossir. Você também pode usar máscaras.
Fontes e referências
Bruno Moraes, otorrinolaringologista, professor da Faculdade de Medicina do Recife da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), chefe do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da mesma instituição, que integra a Rede Ebserh; Bruno Spadoni, clínico geral e professor da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); Ivan Savioli Ferraz, médico pediatra e docente do Departamento de Puericultura e Pediatria da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo); e Mayra de Freitas Centelhas Martinelli, otorrinolaringologista, integrante do corpo clínico das clínicas Clinoft e Endocap, em São Paulo. Revisão médica: Mayra de Freitas Centelhas Martinelli.
Referências: Anderson J, Paterek E. Tonsillitis. [Atualizado em 2021 Aug 11]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2021 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK544342/; Morad, Anna et al. "Tonsillectomy Versus Watchful Waiting for Recurrent Throat Infection: A Systematic Review." Pediatrics vol. 139,2 (2017): e20163490. doi:10.1542/peds.2016-3490.