Câncer e alimentação: como a dieta pode contribuir com o tratamento?
Resumo da notícia
- Quem recebe um diagnóstico de câncer precisa lidar com diversas mudanças na rotina e também na alimentação
- A desnutrição e as alterações metabólicas impactam negativamente na evolução do tratamento
- A alimentação deve ser adaptada ao estado nutricional da pessoa e conforme forem aparecendo os sintomas durante o tratamento
- Alguns alimentos e hábitos ajudam a diminuir os efeitos colaterais das modalidades terapêuticas e fortalecem o organismo
- É importante se atentar para a qualidade e a higiene dos alimentos consumidos e buscar um acompanhamento nutricional
Quem recebe um diagnóstico de câncer precisa lidar com diversas mudanças na rotina. Além de começar a usar medicamentos e fazer tratamentos oncológicos e, em alguns casos, cirurgia, quem tem a doença precisa mudar os hábitos alimentares para contribuir com a melhora do quadro e aumentar o consumo de nutrientes para fortalecer a imunidade.
A desnutrição e as alterações metabólicas, muitas vezes presentes no paciente oncológico, podem impactar negativamente na doença. Por isso, é muito importante fazer um acompanhamento com um nutricionista especializado. Dessa forma, é possível definir quais são os nutrientes fundamentais nessa fase e minimizar os efeitos colaterais das diferentes modalidades terapêuticas.
O nutricionista oncológico tem como responsabilidade assegurar uma ingestão alimentar adequada com as necessidades nutricionais do paciente. "Além de orientar como se alimentar melhor para fortalecer o sistema imunológico, ter o controle de perda involuntária de peso e ter mais opções na dieta", explica Luciana Ítalo, nutricionista da Fundação do Câncer.
Para o tratamento oncológico ser eficaz, a pessoa com câncer precisa realizar cuidados especiais em relação à alimentação, como a qualidade do alimento consumido, segurança alimentar e as quantidades ingeridas. É recomendável não realizar dietas restritivas e manter uma alimentação saudável e equilibrada, diminuindo o consumo de alimentos processados e com poucos nutrientes.
"As recomendações alimentares variam de acordo com o estado nutricional do paciente e com o tratamento proposto. Atualmente, a nutrição caminha lado a lado com a oncologia e já sabemos que o estado nutricional desempenha um papel fundamental para a eficácia do tratamento", diz Carina Abrahão, oncologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Desnutrição pode comprometer o tratamento
Quem faz tratamento contra essa patologia pode ter alguns déficits no paladar e olfato, além de falta de apetite e feridas na cavidade oral, fatores que comprometem a capacidade de se alimentar adequadamente.
Se não for tratada, a desnutrição pode impactar de maneira negativa o tratamento quimioterápico. Sabe-se que o paciente desnutrido tem um risco maior de mortalidade. Além disso, aumentam-se ainda os riscos de complicações como infecções, sarcopenia (perda de massa muscular, da força e da funcionalidade do músculo) e caquexia (perda de peso e músculo. Esta última causa anemia, cansaço extremo, apatia e inflamações que comprometem ainda mais a saúde dessas pessoas e, em casos mais graves, levam à morte.
"E quanto maior o déficit nutricional, maiores são os riscos de toxicidade e efeitos colaterais, além de comprometer a ação do quimioterápico", explica Giovana Ribeiro, nutróloga do IBCC Oncologia (Instituto Brasileiro de Controle do Câncer). Muitas vezes o tratamento precisa ser interrompido devido à desnutrição, justamente porque os medicamentos e tratamentos usados podem causar essa toxicidade ao organismo. Para enfrentar os efeitos colaterais, é preciso manter um estado nutricional adequado. Além disso, uma baixa imunidade torna a pessoa mais suscetível a infecções.
Alimentação minimiza efeitos colaterais
De forma geral, quem faz tratamento oncológico deve ter uma dieta saudável e balanceada com alimentos in natura, como frutas, verduras e legumes, sempre muito bem higienizados. As modalidades terapêuticas contra o câncer têm o objetivo de curar e aliviar os sintomas, mas podem provocar efeitos colaterais que variam de intensidade e duração.
A alimentação deve ser adaptada ao estado nutricional da pessoa com a doença e conforme forem aparecendo os sintomas durante o tratamento. "Em relação as quantidades, os pacientes oncológicos apresentam demandas metabólicas específicas, com aumento das necessidades calóricas e proteicas. Isso pode ser um grande desafio, visto que o tratamento oncológico, nas suas mais diversas modalidades, causa toxicidades que impactam diretamente no consumo alimentar", diz Janainna Mazelli, nutricionista oncológica do hospital Sírio-Libanês.
Abaixo, veja algumas recomendações nutricionais para lidar com alguns efeitos colaterais dos tratamentos oncológicos:
Náuseas e vômitos
Para aliviar os sintomas de náuseas e vômitos, indica-se o consumo de alimentos de fácil digestão. É importante evitar frituras, gorduras e condimentos, além de realizar pequenas refeições durante o dia.
Outra recomendação é não se deitar logo após se alimentar. Para náuseas, uma boa dica é o consumo de gengibre, que pode ser acrescentado em sucos, na água de coco ou em chás. Em caso de vômito, os especialistas também recomendam aumentar a ingestão hídrica de forma fracionada.
Alterações intestinais
É bastante comum que as pessoas que fazem tratamento contra o câncer apresentem diarreia ou constipação. Para ambos os casos é fundamental beber bastante água para evitar a desidratação ou melhorar a consistência das fezes.
Quem sofre com a diarreia deve evitar preparações gordurosas e condimentadas, leite e derivados que contenham lactose, açúcar e alimentos laxativos em excesso, como verduras com muita fibra, cereais integrais, mamão, ameixa e abacate.
Para a constipação intestinal, o ideal é aumentar o consumo de aveia, linhaça, verduras e frutas como mamão, laranja com bagaço, ameixa, manga e abacate. Outra dica importante é realizar atividade física, se não houver contraindicação.
Perda de apetite
Não ter mais vontade de comer pode ocorrer com frequência, mas essa atitude é bastante arriscada, pois leva à desnutrição e compromete o tratamento.
Quem apresentar dificuldade de consumir alimentos sólidos pode ingerir mais líquidos como vitamina, suco, sorvetes, iogurtes e sopas. Vale a pena tentar comer em pequenas quantidades, porém mais vezes ao dia. Além disso, sempre ingerir alimentos que dão vontade naquele momento. Acrescentar azeite, abacate e castanhas nas preparações do dia a dia ajuda a aumentar a quantidade de calorias.
Em alguns casos, quando há perda de peso em excesso ou desnutrição, os especialistas podem incluir a suplementação via oral, para complementar a dieta com mais nutrientes.
Mucosite
É bastante comum que quem enfrente um câncer tenha aftas ou feridas na boca. Isso pode atrapalhar a alimentação, pois comer nesses casos causa dor ou desconforto. Por isso, é importante consumir alimentos macios e pastosos, como purês, e com temperatura morna.
Não é interessante comer alimentos muito gelados ou quentes e também evitar os ácidos, apimentados e irritantes da mucosa bucal, como condimentados e outros cheios de sódio.
Boca seca
Ficar com o sintoma de boca seca também é bastante frequente. Manter-se hidratado e consumir alimentos que aumentam a salivação são estratégias úteis para diminuir esse desconforto. Por isso, recomenda-se aumentar o consumo de frutas, vegetais frescos, sucos e sorvetes de frutas. Uma boa dica é o consumo de água com gotas de limão.
Em alguns casos, pode-se utilizar uma suplementação de estimulante de saliva. Ingerir líquidos durante as refeições também favorece a mastigação e a deglutição.
Anemia
Algumas pessoas com câncer apresentam anemia pela redução da ingestão alimentar ou devido a alterações nas funções absortivas do intestino. Há também casos de pessoas com tumores que causam perda de sangue ou que afetam a medula óssea, o que atrapalha a sua capacidade de produzir glóbulos vermelhos.
Por isso, é importante aumentar o consumo de alimentos ricos em ferro, como folhas verdes escuras e proteínas animais como carne vermelha, junto com alimentos ricos em vitamina C, para favorecer a absorção do ferro. É necessário um acompanhamento rigoroso nos exames e iniciar a suplementação, caso tenha necessidade.
Alterações no olfato e paladar
É comum que as pessoas que realizem quimioterapia sintam uma diminuição no paladar ou olfato. Dessa forma, os alimentos ficam menos interessantes ou com gosto amargo. Como cada pessoa é afetada de forma individual, o ideal é encontrar formas de tornar a alimentação mais atrativa com temperos, ervas e especiarias para realçar o gosto.
Hidratação em dia
Os líquidos como água e sucos naturais são fundamentais para o funcionamento do organismo, pois ajudam a digestão, o transporte de nutrientes e excreção, além de auxiliar no funcionamento renal. Manter-se hidratado é de suma importância para que as medicações usadas não sobrecarreguem os rins e, assim, tenham menor efeito tóxico no organismo.
"Os efeitos dos quimioterápicos provocam alterações intestinais como constipação e diarreia. Por isso, a ingestão hídrica adequada contribui para regularização da função intestinal. Além disso, reduz a toxicidade do tratamento", explica Ítalo.
Restrições alimentares
É preciso se atentar para a qualidade e a higiene dos alimentos consumidos, principalmente fora de casa. Quem está fazendo um tratamento contra o câncer precisa dar preferência a alimentos sempre bem cozidos, embalados adequadamente, com selo de qualidade, dentro do prazo de validade e em locais onde as normas de higiene são seguidas rigorosamente.
Os especialistas reforçam que é importante evitar alimentos industrializados, pois são ricos em conservantes. Deve-se evitar também o consumo de bebidas alcoólicas, alimentos ultraprocessados, fritos e extremamente açucarados.
E quando é necessário o transplante de medula óssea?
Em alguns casos, a pessoa é acometida por um câncer no sangue, como ocorre com quem tem leucemia, linfoma ou mieloma múltiplo. Sendo assim, além de outras terapias como quimioterapia, elas podem precisar de um TMO (transplante de medula óssea) para combater a patologia.
É necessário que o paciente passe por uma avaliação por um nutricionista antes do procedimento, de forma que todas as necessidades nutricionais comecem a ser atingidas antes de iniciar o preparo para o transplante. Isso porque serão utilizadas doses elevadas de medicamentos quimioterápicos para destruir as células imunes antes de receber uma nova medula óssea.
Nesses casos, as pessoas passam por um período de alta toxicidade e podem sentir náuseas, vômitos, mucosite e diminuição das defesas do corpo. Por isso, é fundamental passar por uma avaliação prévia com um nutricionista para evitar uma desnutrição. E durante todo o período que estiver internado em ambiente hospitalar, o indivíduo deve ser acompanhado por especialistas para não comprometer o sucesso do transplante.
"O maior cuidado em relação à alimentação do paciente que vai realizar um TMO é evitar contaminação e desenvolver infecção intestinal. Por isso, é necessária uma higiene redobrada dos alimentos. Quando não é possível saber a procedência ou não garantir uma boa higienização, deve-se evitar alimentos crus, por exemplo", explica Abrahão.
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