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Água, chá, café: o que quebra e o que não quebra o jejum?

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Bárbara Therrie

Colaboração para o VivaBem

11/05/2022 04h00

O jejum pode e é utilizado em diversas situações: por motivações religiosas, no preparo de exames e até como estratégia de emagrecimento. Falando especificamente das duas últimas, é comum surgirem dúvidas sobre quais alimentos e bebidas quebram ou não o jejum.

Antes de listarmos isso, é importante esclarecer que o jejum que fazemos antes de exames e procedimentos cirúrgicos é diferente do jejum intermitente. No primeiro caso, ele é essencial para realizar certas dosagens —a recomendação para ficar sem comer de 8 a 12 horas é necessária para reduzir a interferência alimentar e mitigar o risco de exames falsamente alterados.

No caso de cirurgias, o jejum é realizado para evitar que o paciente tenha um efeito adverso chamado de broncoaspiração, isto é, o alimento passar do estômago e esôfago para o pulmão, o que pode acontecer se ele sentir necessidade de vomitar enquanto estiver deitado e anestesiado.

No entanto, ficar horas sem comer não é mais obrigatório para vários exames laboratoriais, como o hemograma e o perfil lipídico.

Já o jejum intermitente possui protocolos que sugerem a restrição alimentar por 12, 18, 24 ou até 36 horas, liberando a alimentação nos outros períodos. Um dos resultados da prática seria a perda de peso, embora um estudo publicado em abril deste ano na New England Journal of Medicine tenha concluído que ficar em jejum não reduz mais peso do que qualquer outra dieta padrão com restrição calórica.

A seguir, veja os alimentos e bebidas que quebram ou não o jejum:

Mulher bebendo água - Engin Akyurt/Unsplash - Engin Akyurt/Unsplash
Imagem: Engin Akyurt/Unsplash

Água

A água não quebra o jejum intermitente, uma vez que ela não contém calorias e não possui nenhum macronutriente, que são as proteínas, carboidratos e lipídeos. Muito pelo contrário, os adeptos dessa estratégia não só liberam a água, como incentivam o seu consumo em grande quantidade.

A água para a coleta de exames laboratoriais é liberada na grande maioria dos casos. Já nos procedimentos cirúrgicos, quebra o jejum e deve ser evitada devido ao risco de regurgitação durante a anestesia.

chá de hortelã - iStock - iStock
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Chá

O chá adoçado quebra o jejum intermitente, porque fornece carboidratos e calorias provenientes do açúcar, quebrando a situação de "zero caloria" que essa estratégia propõe. Já o chá puro ou com adoçante não atrapalha o jejum intermitente. No entanto, é importante citar que, dependendo da quantidade, muitos adoçantes podem produzir energia igual ao açúcar, dentro de uma relação de quantidade proporcional. Sendo assim, os adoçantes naturais como stevia, xilitol e eritritol são os mais indicados.

Dependendo do tipo de exame a ser feito e da composição do chá, ele pode quebrar o jejum pré-exame de sangue. No caso da bebida pura, ela não tem calorias e não vai interferir no resultado de forma geral, mas temos que ver outras particularidades, como saber se ela vai provocar efeitos sobre o metabolismo. Alguns chás contêm cafeína em sua composição e podem interferir no resultado, por isso seu consumo não é indicado nessas situações.

No caso de cirurgia, é o efeito de volume, e não as calorias, que deve ser considerado. A depender do procedimento e do tipo de chá, o jejum pode variar de 2 a 6 horas, portanto, tomar a bebida quebra o jejum.

café - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Café

A situação é a mesma do chá. O café puro ou com adoçante não quebra o jejum intermitente. Já o café com leite e/ou açúcar, sim, porque contém macronutrientes, ou seja, fornece carboidratos e calorias provenientes do açúcar ou proteínas do leite. O café é, inclusive, uma das bebidas que as pessoas que praticam o jejum intermitente tomam no período que estão sem comer, já que a cafeína acelera o metabolismo.

O café, independentemente se puro ou com leite, açúcar e adoçante, é contraindicado no jejum para exames médicos e cirurgias, devido à cafeína, que pode interferir nos resultados e no estado de repouso digestivo e metabólico do paciente, necessário para a maioria dos procedimentos.

Suco; detox; verde - iStock - iStock
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Suco verde e de frutas

Sucos verdes e de frutas quebram o jejum intermitente e o jejum para exames e cirurgias devido aos macronutrientes e à produção de energia. A frutose, presente na maioria das frutas, é um carboidrato que tem calorias.

refrigerante - iStock - iStock
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Refrigerante diet

O refrigerante diet não tem açúcar e calorias e, portanto, não compromete o jejum intermitente. Mas a bebida pode quebrar o jejum para exames e cirurgias por causa dos outros componentes presentes nela, como eletrólitos —sódio, potássio— e cafeína.

Pílula, remédio - iStock - iStock
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Remédios

Os remédios não quebram o jejum intermitente, e as medicações de uso crônico não podem ser interrompidas no período de restrição alimentar.
Aqui é importante se atentar à diferença entre medicamentos e suplementos nutricionais. Uma pessoa que suplementa 3 gramas de ômega 3, por exemplo, recebe praticamente 27 calorias em uma dose --essa quantidade pode significar quebra do jejum intermitente.

O uso de remédios não quebra o jejum de exames, mas pode alterar o valor dos resultados. Há casos em que o médico quer saber como a fisiologia do paciente se comporta sem o medicamento, outras vezes, ele pode querer observar o efeito do uso crônico ou agudo de um medicamento específico. Portanto, o ideal é sempre perguntar ao médico se deve tomar o remédio antes do exame de sangue ou não, e comunicar ao laboratório se fez o uso de alguma medicação.

No caso de cirurgia, alguns medicamentos precisam ser tomados e o que será levado em conta é a quantidade de água e o tempo até a realização do procedimento —tomar o remédio com pouca água até duas horas antes não tem problema—, mas o mais seguro e indicado é seguir a orientação dada pelo médico.

Fontes: Andréa Waisenberg, nutricionista, especialista em nutrição esportiva pele USP (Universidade de São Paulo) e proprietária da iDeaNutri, clínica de nutrição com foco em promoção da saúde, alimentação saudável e adequação de composição corporal; José Souza Xavier, médico nutrólogo e cirurgião do aparelho digestivo, coordenador clínico da EMTN (Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional) do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel e do Hospital Giselda Trigueiro, localizados no Rio Grande do Norte; Rafael Buck Giorgi, médico endocrinologista da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - Regional São Paulo) e preceptor de clínica médica na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).