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Thiago Paulino protesta após perder ouro e CPB critica 'decisão absurda'

Thiago Paulino protesta durante premiação do arremesso de peso -  Matsui Mikihito/CPB
Thiago Paulino protesta durante premiação do arremesso de peso Imagem: Matsui Mikihito/CPB

Colaboração para o UOL, em São Paulo

04/09/2021 01h18Atualizada em 04/09/2021 09h16

O brasileiro Thiago Paulino protestou no pódio do arremesso de peso da classe F57 (para atletas que competem em cadeiras de rodas com sequelas de poliomielite, lesões medulares, amputações) após perder a medalha de ouro devido à revisão da prova nas Paralimpíadas de Tóquio.

Puxando a fila em direção ao pódio, o brasileiro - que ficou com o bronze após serem invalidados os dois arremessos que valeriam o primeiro lugar - estava cabisbaixo e visivelmente incomodado com a decisão. Posicionado no pódio, Thiago bateu no peito diversas vezes, fez o sinal de "não" com a mão e, na sequência, mostrou o número 1. Ao receber a medalha, o brasileiro repetiu os gestos. Mesmo assim, ele colocou o bronze no pescoço.

Com a revisão, o chinês Guoshan Wu herdou o ouro e "respondeu" ao protesto de Thiago. Ele mostrou a bandeira de seu país, bateu no peito e também fez o número 1 com a mão direita. Thiago ficou de cabeça baixa durante a execução do Hino Nacional da China e, na sequência, levantou o punho direito cerrado em sinal de protesto. O brasileiro ainda balançou a cabeça em negação.

Em prova realizada na manhã de sexta-feira (3), do Brasil, Thiago arremessou 15,10 metros na segunda tentativa e conquistou a medalha de ouro — diferente do evento olímpico, em que os atletas se apresentam alternadamente por seis rodadas, no paralímpico cada um faz suas seis apresentações de uma só vez. A prova, porém, foi revisada, e os dois melhores arremessos do brasileiro invalidados por um júri de apelação, provocado pelos chineses.

Os asiáticos apresentaram um vídeo que, segundo o júri, mostraria uma irregularidade nesses dois arremessos, Na classe F57, os atletas precisam competir sentados em uma base que se parece com uma mesa e não podem retirar os glúteos dessa mesa durante a execução do arremesso. Seria essa irregularidade, conhecida no movimento paralímpico como lifting, que Thiago teria cometido.

Mas sequer isso é confirmado pelo IPC ou pelo CPB, que reclama que teve negado acesso às imagens que supostamente mostram a irregularidade. O recurso foi julgado ainda na noite de sexta-feira no Japão, após a prova de Thiago, que fechou o dia, mas só foi conhecido cerca de 12 horas depois, na manhã de sábado (sempre pelo horário local) porque a delegação brasileira precisava ser comunicada diretamente.

Depois de assegurar o ouro dentro da prova, Thiago queimou o quarto e o quinto arremessos, e depois abriu mão de fazer o sexto, o que acabou por custar caro. Com as duas invalidações tardias, ele ficou com apenas o primeiro arremesso válido, de 14,77m, que lhe valeu o bronze. Marco Aurélio Borges, veterano que inspirou Thiago, acabou beneficiado pela mudança no resultado, e acabou com a prata ao marcar 14,85m.

Decisão absurda

Diante da decisão, o CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro) explicou que não teve êxito na tentativa de reverter a punição ao seu atleta, classificada como "absurda". "Esgotamos todos os recursos que podíamos, mas o atleta Thiago Paulino ficou com o bronze na prova do Arremesso de Peso da classe F57. No momento da prova, seu arremesso de ouro foi validado pela arbitragem", publicou o CPB em seu perfil no Twitter.

"Thiago saiu do Estádio Olímpico, na noite do dia 3, na condição de campeão paralímpico, dono do 21º ouro brasileiro em Tóquio, igualando a marca histórica de Londres 2012, e acordou neste sábado, 4, como medalhista de bronze sem comprovação de que tenha cometido alguma infração. Ficam nosso protesto e indignação por essa decisão absurda. Força, Thiagão, o Brasil e a justiça estão do seu lado", concluiu.

Presidente do CPB, Mizael Conrado também criticou o episódio em suas redes sociais. O dirigente afirmou que a decisão foi "esdrúxula" e tomada por pessoas que "nunca disputaram uma medalha".

"Provavelmente, os titulares de mais esta esdrúxula decisão nunca disputaram uma medalha para saberem a importância que tem o feito do nosso Thiago, e o que representa tamanha injustiça, após cinco anos de dedicação, com treinos diários, abdicando de tantas coisas para ser o melhor", iniciou o presidente em seu perfil Twitter.

"Depois de tantas lambanças nos últimos quatro anos, ingenuidade pensar que tudo acabaria normal por aqui", completou.

Mizael ainda apontou que "a recusa em mostrar o vídeo da suposta infração constitui flagrante falta de transparência".