Por que Disney encerrou Fox Sports Rádio, principal audiência do grupo
Em mais uma decisão em meio à fusão de seus canais esportivos, a Disney encerrou ontem (11) os últimos quatro programas fixos que ainda restavam na grade do Fox Sports: Debate Final, Tarde Redonda, Expediente Futebol e Fox Sports Rádio. O último, inclusive, representava o principal sucesso da casa nos últimos anos - médias superiores a 0,5 ponto de audiência no Painel Nacional de Televisão (PNT), índice de audiência da TV medido pelo Ibope nas 15 principais regiões do Brasil, dentro do público-alvo entre homens de 18 a 49 anos a partir das 12h45.
A decisão pegou funcionários e público de surpresa. Mas, afinal, por que a multinacional tomou a decisão de acabar até com seu debate de maior audiência? O UOL Esporte explicará no texto abaixo.
Após ter a fusão aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a Disney tomou sua decisão: iria priorizar a ESPN, uma vez que a marca "Fox" seria devolvida à matriz americana em janeiro de 2022. Para a empresa, não faria sentido somar esforços num canal com prazo de validade.
A ideia era manter a Fox no apenas com as obrigações constadas no documento do Cade: transmissão integral da Libertadores no canal e manutenção de "programação atrativa", o que entendeu-se por outros jogos ao vivo de competições com as quais a Disney tinha contrato. No processo de transição até a descontinuação da marca "Fox Sports", em janeiro de 2022, nada seria mantido. E assim foi feito.
Dívida de R$ 120 milhões na Fox
Nem mesmo o Fox Sports Rádio escapou. Restando ainda um ano de canal no ar, manter o programa líder de audiência no ar se mostrava uma experiência cara, uma vez que ela não poderia ser deslocada de todo o "catálogo" Fox. A operação da emissora e do prédio no Rio de Janeiro se mostrava deficitária. Diante de uma dívida de mais de R$ 120 milhões que se deparou ao assumir o controle da emissora, a Disney entendeu que precisava rever imediatamente os gastos.
Inicialmente, contratos caros como o do apresentador da atração, Benjamin Back, não foram renovados. A Disney ofereceu um valor igual ao vínculo anterior, mas cobrou exclusividade. O jornalista não topou e foi para o SBT. Outro nome forte do programa, Maurício Borges, o "Mano", deixou o canal e seguiu com Benja para a emissora de Silvio Santos.
O Fox Sports Rádio começava a perder força. Sem a formação original, o programa ficou também sem Flávio Gomes. Comentarista e Disney não se acertaram por uma renovação. Oswaldo Pascoal, Felipe Faccincani e Fábio Sormani, os "sobreviventes" da bancada, se dividiam entre outras atrações.
Ontem, ao anunciar internamente que iria rever também os contratos de produtores, editores e integrantes das áreas técnicas, a Disney reforçou a ideia de priorizar a programação da ESPN e descontinuou o Fox Sports Rádio. Toda a mão de obra de produção jornalística e de debate seria focada para entregas de programas no seu principal canal. Foi o fim daquela que se tornou a principal atração - além dos jogos - da emissora.
O Fox Sports ficará apenas com transmissões da Copa Libertadores e de jogos dos campeonatos inglês, espanhol, argentino e português - além da Liga Europa.
Procurada para comentar a respeito das mudanças na grade de programação, a Disney confirmou o fato e compartilhou seu posicionamento padrão sobre a reestruturação nos canais ESPN e Fox Sports: "Nosso pilar de esportes está passando por um processo de transformação para oferecer um conteúdo ainda mais variado e qualificado para a audiência do Brasil. A reformulação faz parte do planejamento da Companhia em busca de sinergia em seu pilar de esportes, seguindo os investimentos em sua programação, contando com um extenso portfólio de direitos, além de uma equipe de jornalismo referência junto aos fãs de esportes".
8 anos de história e revolução na hora do almoço
O "Fox Sports Rádio" estreou no Brasil em 1º de outubro de 2012, baseado em um formato que vinha fazendo sucesso em toda a América Latina e apostava justamente nos acalorados debates de rádio na TV.
A primeira formação contou com Alexandre Araújo, Eugênio Leal e Ricardo Martins - todos com carreiras de sucesso no "dial" esportivo. Essa formação durou um ano e não chegou a dar certo na audiência, tanto que Araújo não renovou seu contrato ao fim de 2013.
Com a criação do Fox Sports 2, o programa deixou de ser gravado no Rio de Janeiro e foi transferido para São Paulo. A equipe que consagrou a atração foi formada nesta reformulação: Benjamin Back, Maurício "Mano" Borges, Oswaldo Pascoal, Fábio Sormani e Flávio Gomes.
Inicialmente exibido nesse segundo canal no início de 2014, o "Rádio" voltou para o canal principal poucas semanas depois, devido aos seus ótimos índices de audiência. Com a mudança, uma explosão de Ibope aconteceu e a liderança entre os canais esportivos no horário foi alcançada.
O sucesso foi tanto que o Fox Sports criou ainda em 2014 uma edição semanal nas noites de segunda do programa, no mesmo horário do "Linha de Passe", da ESPN Brasil, e do "Bem, Amigos!", do Sportv. Essa versão durou poucos meses e saiu do ar no início de 2015.
Mas as vitórias na hora do almoço continuavam. Tal fato gerou uma verdadeira revolução nas grades dos canais concorrentes, que ficavam cada vez mais para trás. A ESPN Brasil mudou o elenco do tradicional "Bate-Bola" - com João Carlos Albuquerque, Mauro Cezar Pereira e PVC e apostou em uma atração com linguagem mais jovial comandada por Bruno Vicari e Marcela Rafael. Já o Sportv estreou o "Seleção" como atração diária com Marcelo Barreto.
Em 2018, ainda sem conseguir estancar as derrotas para a Fox, Barreto deixou o programa e André Rizek passou a comandar a faixa do almoço no Sportv, onde está desde então.
A ESPN também mexeu em algumas peças. Nada, no entanto, tirava a liderança do Fox Sports Rádio. Após as mudanças recentes, especialmente após as saídas de Benja e Mano, os números caíram. "Bate-Bola" e "Seleção" passaram a se revezar na liderança do Ibope até o fim do "Rádio", como o programa era chamado internamente.