Psoríase é crônica, intermitente e tratamento pode controlar sintomas
Enquanto os psiquiatras e psicólogos alertam sobre os efeitos nocivos dos altos níveis de estresse causados pela pandemia da covid-19, os dermatologistas lembram que esse fator de risco não afeta apenas a saúde mental, mas também a pele, provocando ou piorando doenças já existentes. Este é o caso da psoríase, uma enfermidade inflamatória e crônica que se caracteriza pela presença de manchas róseas ou avermelhadas, cobertas por escamas esbranquiçadas.
Considerada comum, a psoríase acomete 1,3% da população brasileira e afeta homens e mulheres igualmente, especialmente na idade entre 30-39 anos, mas também pode se manifestar em crianças e idosos. Neste último caso, o pico de seu aparecimento será entre 60-69 anos.
Além de ter de lidar com ela por toda a vida, quem tem psoríase ainda precisa ser paciente com a sua intermitência, ou seja, ela apresenta ciclos de melhora e piora.
A doença não é contagiosa, não causa cicatrizes, mas pode alterar, temporariamente, a coloração da pele. Quadros moderados a graves são tidos como fatores de risco para outras doenças como artrite psoriática, ansiedade, depressão, além de doenças do coração, AVC (Acidente Vascular Cerebral), diabetes, obesidade, entre outras.
Até o momento, não existe cura para a psoríase. Contudo, os médicos garantem que o seu tratamento promove o controle da enfermidade, previne as doenças a ela relacionadas e melhora a qualidade de vida.
Entenda a psoríase
Trata-se de uma doença da pele crônica e inflamatória que leva ao aparecimento de placas avermelhadas (ou rosas) proeminentes, e apresentam escamas esbranquiçadas ou prateadas. Essas placas se formam a partir do crescimento anormal de células cutâneas.
Em alguns indivíduos essa mudança no aspecto da pele é limitada a poucas áreas do corpo, mas em casos mais graves as placas podem acometer regiões maiores.
Por que isso acontece?
Até o momento não se sabe exatamente a causa da psoríase, mas há evidências de que ela seja uma doença inflamatória imunomediada (o sistema de defesa do corpo não reconhece células saudáveis e as ataca). A doença também é comum entre pessoas de uma mesma família, o que sugere que ela seja geneticamente determinada.
Além disso, existem alguns fatores desencadeantes —que podem ser o ponto de partida da psoríase ou provocam a sua piora. Confira:
- Traumatismo (ferimentos)
- Uso de alguns tipos de medicamentos (cloroquina, lítio, betabloquadores, esteroides, anti-inflamatórios não esteroidais, entre outros)
- Baixas temperaturas
- Estresse psicológico
- Uso de álcool
- Tabaco
- Obesidade
- Banhos longos e quentes
- Infecções
- Mudanças hormonais, especialmente entre as mulheres
- Distúrbios do sistema imunológico, como o causado pelo HIV
Saiba reconhecer os sintomas
Em geral, a psoríase se manifesta por meio do aparecimento espontâneo de manchas avermelhadas e descamativas na pele.
As típicas placas podem ser finas ou espessas, se desprendem com facilidade e podem se espalhar pela roupa pessoal ou de cama, pentes e escovas. As lesões persistem por semanas, se agravam no inverno e melhoram no verão.
Podem ser observadas, também, as seguintes manifestações:
- Coceira (ocorre em 80% dos casos)
- Dor
- Queimação
- Pele ressacada e rachada, por vezes com sangramento
- Unhas grossas, com sulcos, descoladas ou com depressões
- Inchaço e rigidez nas articulações
Em geral, as regiões mais afetadas pela psoríase são:
- Couro cabeludo
- Cotovelos
- Joelhos
- Costas
- Nádegas
- Palma das mãos
- Planta dos pés
- Dobras da pele, inclusive dos genitais
- Unhas
Conheça os vários tipos
Cerca de 90% dos casos correspondem à psoríase em placas ou vulgar, cujos sinais são as placas secas, avermelhadas, com escamas prateadas ou esbranquiçadas e podem atingir todo o corpo, até os genitais. Nos quadros graves, a pele pode rachar e sangrar na região das articulações.
As demais manifestações da enfermidade são as que você vê a seguir:
Comuns
- Gutata - caracterizada por pequenas placas em forma de gota que aparecem no tronco, braços, pernas e couro cabeludo. Em geral é desencadeada por uma infecção bacteriana por Streptococcus, o mesmo que causa dor de garganta. É mais frequente em jovens e crianças;
- Ungueal - a doença aparece nas unhas dos pés e das mãos, alterando seu crescimento, espessura, cor e até a deforma ou descola. Há também maior propensão à artrite psoriática;
Couro cabeludo - semelhante à caspa, causa coceira e consequente surgimento de áreas avermelhadas com escamas - parecidas com flocos de pele morta; são visíveis nos cabelos e ombros; - Invertida - ela acomete áreas úmidas como as axilas, virilhas, embaixo dos seios, ao redor dos genitais. Obesidade, excesso de suor local e atrito na região agravam o quadro. Há ainda maior propensão à artrite psoriática.
Menos comuns
- Pustulosa - tipo raro que pode ser localizado (mãos, pés e dedos) ou generalizado. As placas são acompanhadas por pequenas ou grandes bolhas de pus (pústulas estéreis, ou seja, sem bactérias). A depender do quadro, a hospitalização pode ser necessária;
- Palmoplantar - afeta palmas das mãos e dos pés;
- Artrite psoriática - também conhecida como artropática; além das típicas manifestações, dores e inchaço nas articulações, especialmente nos dedos dos pés, mãos, da coluna e quadris são comuns. Pode causar rigidez progressiva e até deformidades, e esta associada às outras formas de psoríase;
- Eritodérmica - é um tipo raro e agressivo que pode afetar toda a pele e, por vezes, requer tratamento hospitalar.
Quando é hora de procurar ajuda?
Toda vez que for notada alguma modificação na aparência da pele, o ideal é que se busque por uma avaliação médica. A sugestão é de Nathalia Targa Pinto, dermatologista e preceptora de dermatologia e cirurgia ambulatorial do curso de medicina da Universidade Positivo (PR).
"Apesar das características dessa doença, pode ser que não se trate de psoríase, já que existe uma infinidade de outras doenças de pele", observa a médica.
Ela acrescenta que a enfermidade interfere na vida social, profissional e psicológica do paciente e, assim, falar com um especialista pode esclarecer dúvidas, reduzir preocupações e ainda ajudar a encontrar as melhores opções de tratamento para trazer de volta a qualidade de vida.
O médico treinado para tratar a psoríase é o dermatologista.
Como é feito o diagnóstico?
Na hora da consulta o médico fará o levantamento de seu histórico de saúde e familiar, bem como realizará o exame físico. O diagnóstico da psoríase se baseia nesses dados e, por isso, ele é chamado de clínico.
O profissional poderá também fazer uma raspagem da pele para observar as escamas esbranquiçadas, que os especialistas chamam de sinal da vela, dada a semelhança com a parafina raspada. Eles também poderão verificar o sinal de Auspitz ou orvalho sangrento —ao raspar a pele com uma cureta, ela sangra levemente.
Em alguns casos, será realizada biópsia para afastar a suspeita de outras enfermidades. Exames complementares, na maioria das vezes, são desnecessários.
Saiba como é feito o tratamento
O objetivo do tratamento é obter o controle total ou parcial dos sinais e sintomas da psoríase. E ele é sempre personalizado, porque deve corresponder ao nível de gravidade de cada quadro. Para esse fim, os médicos têm à disposição medicamentos tópicos, sistêmicos e fototerapia. Entenda cada um deles:
- Tópicos - são cremes, géis, pastas, loções, como os ceratolíticos (estes reduzem a camada grossa da pele), corticoides, análogos de vitamina D etc.;
- Sistêmicos - remédios de uso oral ou injetável. São exemplos: acitretina, metotrexato, a ciclosporina, entre outros. Quando o paciente não responde a esses medicamentos, há ainda fármacos imunobiológicos ou biológicos, como o infliximabe e o etanercepte etc.;
- Fototerapia - a técnica consiste na exposição a radiações ultravioleta A e B (R-UVA e UVB).
A critério do médico, e a depender da gravidade da doença, essas práticas podem ser combinadas ou não.
Relação com outras doenças
Caio Cesar Silva de Castro, professor de dermatologia da Escola de Medicina da PUC-PR e responsável por um dos ambulatórios de psoríase da Santa Casa de Curitiba, diz que embora a psoríase seja uma doença da pele, ela pode afetar as articulações e também tem sido relacionada a várias outras enfermidades.
"A inflamação não se limita apenas a pele, mas pode alcançar diferentes órgãos do corpo", esclarece o médico. Essa é a razão por que os cientistas têm afirmado que ela pode ser uma "entidade sistêmica" e não apenas uma doença dermatológica.
Pessoas com psoríase podem apresentar as seguintes condições:
- Síndrome metabólica
- Hipertensão
- Obesidade
- Dislipidemia
- Diabetes
- Doença cardiovascular
- Depressão
- Risco de suicídio
- Ansiedade
- Enxaqueca
- Esclerose Múltipla
- Doenças hepáticas
- Asma
- DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica)
- Apneia
- Doença renal
O que acontece se a psoríase não for tratada?
O dermatologista Ricardo Romiti, coordenador da Campanha Nacional de Psoríase da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), explica que a falta de tratamento faz as lesões se disseminarem, podendo ainda haver piora da dor e do prurido.
"Casos graves podem demandar internação hospitalar pelo alto risco de complicações, como infecção e choque. Pacientes sem tratamento adequado podem ter grande impacto no seu bem-estar físico e psíquico, e terão de conviver com o preconceito e o isolamento que, muitas vezes, acompanham o paciente psoriático", completa o médico.
Cuidados para grávidas e lactantes
Mulheres com psoríase que estejam planejando gravidez ou amamentar devem falar com um dermatologista para que eles possam avaliar o perfil de segurança da continuidade do tratamento com determinados medicamentos.
Os especialistas afirmam que a psoríase tende a melhorar na gestação. Contudo, pode piorar no período após o parto. Se houver piora do quadro durante a gravidez, o médico deve ser consultado para que ele possa considerar quais seriam as melhores estratégias terapêuticas.
Afinal, muitos dos tratamentos tópicos, além da fototerapia, quando indicados de forma correta, podem ser realizados com segurança por gestantes e lactantes.
Dá para prevenir?
Como a doença é geneticamente determinada, é importante que pessoas que tenham propensão à doença, ou já tenham diagnóstico definido, invistam em um estilo de vida saudável, o que inclui dieta equilibrada, atividade física regular, sono reparador, controle dos níveis de estresse. Todas essas atitudes podem conter a manifestação ou a progressão da doença.
A melhor forma de fazer isso é educar-se sobre a enfermidade e conhecer os seus fatores desencadeantes para tentar, ao máximo, prevenir as crises. O conselho dos médicos é que você fique atento aos sintomas. Ao primeiro sinal deles, procure um dermatologista. Quanto mais rápido for feito o diagnóstico, mais fácil será o tratamento.
Qual a diferença entre psoríase e dermatite atópica em crianças?
Ambas as enfermidades são inflamatórias e crônicas. As diferenças entre elas residem no fato de que a dermatite é mais comum em crianças e afeta áreas flexurais (atrás dos joelhos, axilas, parte interna dos cotovelos, virilha)
Já a psoríase, na maioria das vezes, aparece na juventude ou na idade adulta, e acomete, principalmente, áreas extensoras da pele, como tronco e membros, couro cabeludo e unhas.
Como colaborar com o tratamento
Além de educar-se sobre os fatores de risco relacionados à psoríase e adoção de hábitos de vida saudável, coloque em práticas as seguintes medidas:
- Faça visitas regulares ao dermatologista;
- Siga o esquema de tratamento como indicado pelo médico;
- Use hidratante regularmente;
- Tome banhos de sol por período limitado. Fale com seu médico para saber o que seria melhor para você e o seu tipo de pele;
- Evite traumatismos na pele, como cutucar ou arrancar escamas.
Fontes: Caio Cesar Silva de Castro, dermatologista, doutor em ciências da saúde pela PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) e professor de dermatologia da Escola de Medicina da mesma universidade, além de responsável por um dos ambulatórios de psoríase da Santa Casa de Curitiba; foi coordenador de psoríase da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) no biênio 2017-2019; Ricardo Romiti, coordenador da Campanha Nacional de Psoríase da SBD; Nathalia Targa Pinto, dermatologista, mestranda em dermatologia na USP (Universidade de São Paulo), preceptora de dermatologia e cirurgia ambulatorial do curso de medicina da Universidade Positivo (PR). Revisor técnico: Caio Cesar Silva de Castro.
Referências: Ministério da Saúde; SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia); Consenso brasileiro de psoríase 2020 : algoritmo de tratamento da Sociedade Brasileira de Dermatologia; Nair PA, Badri T. Psoriasis. [Updated 2020 Nov 20]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2020 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK448194/; Rendon A, Schäkel K. Psoriasis Pathogenesis and Treatment. Int J Mol Sci. 2019;20(6):1475. Published 2019 Mar 23. doi:10.3390/ijms20061475; Romiti R, Amone M, Menter A, Miot HA. Prevalence of psoriasis in Brazil - a geographical survey. Int J Dermatol. 2017 Aug;56(8):e167-e168. doi: 10.1111/ijd.13604. Epub 2017 Mar 27. PMID: 28345141.
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