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O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Mau hálito: entenda quais são as principais causas do problema

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Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para o VivaBem

31/12/2019 06h00

Resumo da notícia

  • Mau hálito não é doença, mas um sintoma que se caracteriza por uma alteração do hálito que o uso de uma bala de menta ou bochecho não resolvem
  • Existem mais de 40 causas bucais e extra bucais. Em 90% dos casos, trata-se de um problema localizado na boca
  • Camadas espessas de placa bacteriana na língua (saburra) e doenças como cárie, gengivite e periodontite são as principais causadoras do mau odor
  • Tratável e prevenível, as práticas para reverter o problema se baseiam em visitas periódicas ao dentista e cuidados de higiene diários

Mais comum do que você imagina, o mau hálito ou halitose acomete 1 em 4 adultos e é definido como uma alteração do hálito que o uso de uma bala de menta ou um bochecho não resolvem. A literatura médica esclarece que se trata de um sintoma e não é doença, e que ele conta mais de 40 causas diferentes. Porém, em 90% dos casos, trata-se de um problema bucal.

Em um passado recente, os dados científicos sobre o problema eram escassos. A explicação para isso é que até mesmo entre os cientistas, falar sobre o assunto era um tabu que esbarrava em diferenças culturais e raciais na percepção de odores. Hoje, sabe-se que a halitose tem um impacto negativo na vida pessoal e social dos indivíduos por ela acometidos, especialmente porque, por vezes, não é por eles perceptível e, a depender da hora do dia e do tipo de dieta de cada pessoa, o incômodo se intensifica —para pior.

O primeiro passo para a solução do problema é deixar a vergonha de lado e, ao perceber um gosto ou cheiro estranho na boca, perguntar para algum conhecido (com quem se tenha alguma intimidade), se ele sente o odor pronunciado. Se a resposta for afirmativa, a medida seguinte é procurar um profissional para que ele possa investigar a origem da halitose. E os especialistas garantem: a chance de encontrar solução para o mau hálito é grande.

Por que o cheiro é tão desagradável?

Na sua boca convivem 700 tipos diferentes de bactérias que têm função protetiva - elas não só ajudam no processo de digestão como evitam a instalação de micro-organismos nocivos que colocariam em risco a sua saúde bucal e sistêmica. Também chamada de flora bucal, esse conjunto de bactérias vive em equilíbrio para cumprir essas funções.

"Quando há um desequilíbrio e elas se proliferam, formando um biofilme, também conhecido como placa bacteriana, elas liberam compostos sulforosos voláteis que têm um odor característico que é percebido como cheiro de ovo podre", explica Rosileine Uliana, cirurgiã-dentista e integrante da Comissão de Halitologia do CRO (Conselho Regional de Odontologia).

Conheça as principais causas do mau hálito

A origem do problema pode ser bucal e extra bucal. A primeira é responsável por 90% dos casos. Confira:

Causas bucais

Causas extra bucais

  • Insuficiência renal e hepática;
  • Diabetes descontrolado;
  • Infecções dos brônquios e pulmões;
  • Estresse;
  • Refluxo gastroesofágico.

Outros fatores que contribuem para o mau hálito

Aprenda a identificar outros sinais

Muitas pessoas não conseguem perceber o odor mau cheiroso que emana da boca. Isso acontece em razão da chamada fadiga olfativa, ou seja, o nariz se "acostuma" com o cheiro e não mais detecta sua intensidade. É o mesmo fenômeno da percepção do perfume: depois de um tempo usando o mesmo tipo, parece que ele já não é tão intenso. A explicação é de Soraya de Azambuja Berti Couto, mestre e doutora em estomatologia e professora da PUC-PR.

Assim, é importante ficar atento a outros sinais que se manifestam com frequência. O mais comum deles é a saburra ou saburra lingual, que é uma camada espessa de placa bacteriana que se deposita na superfície da língua. "Imagine que ela é um tapete que acumula sujeira —no caso — alimentos, bactérias, células descamadas que se decompõem. A depender da espessura, não só o odor é alterado, mas também o paladar", relata a especialista.

Além disso, você poderá observar sangramento, inchaço e vermelhidão nas gengivas, além da sensação de boca seca. "A saliva é um enxaguante bucal natural, que não só enxágua como remove a sobra de alimentos, e ainda contém proteínas antifúngicas, antibacterianas e antivirais", acrescenta Débora Heller Douek, professora dos cursos de graduação e pós-graduação em odontologia da UNICSUL, em São Paulo.

Quando é a hora de procurar ajuda?

Toda vez que o sintoma persiste, apesar da adoção de medidas como boa higiene bucal, melhora da hidratação e da alimentação, redução do consumo de álcool e tabaco.

O cirurgião dentista é o profissional treinado para avaliar sua queixa.

O que esperar da consulta

O dentista fará a anamnese, ou seja, ele conversará com você para conhecer seu histórico de saúde física e psicológica, para identificar a possível causa e excluir outras, e ainda fará o exame físico —intra e extra bucal.

Como uma das causas da halitose é a boca seca, ele pode realizar um exame chamado sialometria —que mede o volume da saliva.

Como é feito o tratamento?

Em 90% dos casos, o problema é tratável. E as terapias corresponderão à doença de base que esteja relacionada à halitose. Por exemplo, se a causa for a falta de saliva, pode-se fazer uso de saliva artificial, medicamentos que estimulam a glândula salivar ou ajudem a saliva a tornar-se mais líquida. Laserterapia para estímulo salivar é outra possibilidade.

Caso tenham sido diagnosticadas gengivite, periodontite, e também seja identificada a saburra, o tratamento começa com instruções de higiene bucal personalizadas. Concomitantemente o dentista faz a higienização para remoção da placa bacteriana e do tártaro.

A depender da gravidade do caso, mudanças na dieta podem ser indicadas. E o apoio de uma nutricionista será essencial para a introdução de alimentos fibrosos como a maçã ou cenoura, que igualmente atuam como limpadores.

Em casos graves e extremos de doença periodontal, o dentista poderá considerar a indicação de cirurgia.

Cuidados com idosos

Com o envelhecimento ocorrem mudanças naturais fisiológicas no tecido bucal, o que pode predispor ao mau hálito. Some-se a isso o fato de que muitos adultos maduros fazem uso continuado de medicamentos que podem afetar o fluxo da saliva, aumentando o risco para o sintoma e ainda ter dificuldades para os movimentos próprios da escovação.

Caso você se encaixe nesse grupo ou seja responsável pelo cuidado de algum idoso, a higiene bucal não deve ser desprezada. Saiba que ela não se limita à higienização dos dentes e deve incluir bochecha e língua. E as consultas com o dentista devem seguir a mesma periodicidade dos adultos, ou seja, a cada seis meses ou no máximo 1 ano.

Ter mau hálito pela manhã é normal?

Sim. Isso acontece em razão do jejum prolongado das horas de sono e também como consequência da redução natural do fluxo de saliva. Após a higienização e a primeira alimentação do dia ele desaparece. Se isso não acontecer, consulte o dentista.

Dá para prevenir?

Sim, e a melhor forma é fazer visitas periódicas ao dentista para manter a saúde bucal em dia. Além disso, coloque em prática as seguintes medidas:

  • Cultive e mantenha bons hábitos de higiene bucal;
  • Escove os dentes usando creme dental com flúor, ao menos duas vezes ao dia, especialmente antes de dormir. Caso você use prótese, converse com seu dentista sobre a necessidade do uso de soluções antibacterianas;
  • Aprenda a fazer uso correto do fio dental. Evite fios com haste porque eles removem apenas os resíduos alimentares, mas não retiram a placa bacteriana do sulco gengival;
  • Faça uso do limpador lingual ou de uma escova com cerdas mais duras para higienizar a língua e suas laterais dela pela manhã e à noite. O seu dentista pode orientá-lo qual é a melhor solução no seu caso;
  • Mantenha-se hidratado para garantir maior fluxo de saliva: consuma de 1,5 a 3,0 litros de água todos os dias;
  • Tenha sempre ao seu alcance gomas de mascar sem açúcar para estimular a salivação;
  • Reduza ou abstenha-se do consumo de tabaco;
  • Reduza ou abstenha-se do consumo de álcool;
  • Evite ficar mais de 3 ou 4 horas sem se alimentar. Contudo, lembre-se que certos alimentos podem intensificar o odor de seu hálito como alho, cebola ou azeitona.

Fale com seu médico sobre os efeitos colaterais de medicamentos de uso contínuo ou não. Mais de 100 tipos deles podem reduzir o fluxo de saliva. Antidepressivos e anti-histamínicos são exemplos.

Fontes: Rosileine Uliana, cirurgiã-dentista, especialista em periodontia, integrante da Comissão de Halitologia do CRO (Conselho Regional de Odontologia) e associada da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas dos Odores da Boca; Débora Heller Douek, professora dos cursos de graduação e pós-graduação em odontologia da UNICSUL (Universidade Cruzeiro do Sul), e pesquisadora visitante do Hospital Israelita Albert Einstein, PhD em Biologia Oral pela Boston University (Estados Unidos); Soraya de Azambuja Berti Couto, mestre e doutora em estomatologia, especialista em odontopediatria, atuando na área de odontologia hospitalar e professora da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná). Revisão técnica: Débora Heller Douek.

Referências: Uditi Kapoor et alli. Halitosis: Current concepts on etiology, diagnosis and management. Eur J Dent. 2016; Silva MF et alli. Estimated prevalence of halitosis: a systematic review and meta-regression analysis. Clin Oral Investig. 2018.