A hipertensão é silenciosa e mata: conheça mitos e verdades sobre a doença
A hipertensão está relacionada a hábitos de vida, como alimentação e prática de atividade física, ao perfil do biotipo e ao histórico familiar, ou seja, predisposição genética.
Se os pais têm pressão alta, é maior a probabilidade de os filhos serem hipertensos. Em qual idade? Dependerá de fatores comportamentais. Alimentação de má qualidade, consumo excessivo de álcool, obesidade e sedentarismo, por exemplo, aumentam o risco.
A pressão arterial considerada normal é a que marca 12/8 e a alta, igual ou acima de 14/9, e requer acompanhamento e tratamento. Para a medição, o paciente deve ficar em repouso entre 10 e 15 minutos, com as pernas descruzadas, e não pode ter ingerido bebida alcoólica, chá, chocolate e café, e estar com a bexiga vazia.
Existe uma ressalva para quem já sofreu um evento cardiovascular, como derrame e infarto. Neste caso, o valor deve estar abaixo de 13/8,5. Pessoas com histórico de diabetes, doença vascular, aterosclerose ou entupimento nas artérias também devem ficar atentos ao controle da pressão arterial, com a frequente medição e a ingestão diária dos medicamentos prescritos.
Segundo a SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia), o tratamento da hipertensão pode reduzir as doenças cardiovasculares em até 80%, se associado ao controle do colesterol, à alimentação saudável e à prática de exercícios.
Diminuir o consumo de sal é regra básica, e não somente o usado para temperar os alimentos. Molhos industrializados de soja e de salada, além de carnes processadas, embutidos, pratos prontos congelados e refrigerantes também contêm sódio.
Um estudo publicado este ano na Revista Brasileira de Epidemiologia mostrou que o consumo médio de sal da população brasileira é, aproximadamente, o dobro da recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde), que é de 5g/dia. A pesquisa foi realizada através da dosagem urinária de 8.083 indivíduos.
O perigo aumenta ainda mais pelo fato de a hipertensão ser considerada uma doença silenciosa (assintomática). De acordo com a SBC, nas últimas três décadas, houve uma diminuição da incidência de 36% para 31% da população adulta (a partir dos 20 anos). Porém, a estimativa é a de que ocorram 400 mil mortes por ano por doença cardiovascular. Destas, mais de 60% têm como fator de risco a pressão alta.
Por isso, é importante saber diferenciar o que é mito e o que é verdade em relação à doença. Vamos a eles:
Mitos
A hipertensão tem cura. Não, é possível apenas controlá-la. Por isso, a importância da prática de exercícios físicos, da alimentação saudável e do uso contínuo e diário de medicação.
Pessoas com pressão normal não correm o risco de ter doenças cardiovasculares. Vale ressaltar que cerca de 30% da população brasileira tem hipertensão. O que não significa que a outra parte não terá no futuro, dependendo dos hábitos de vida. Neste caso, é importante fazer a medição a cada seis meses.
Magros não correm o risco de ser hipertensos: a pressão alta é mais comum em obesos e diabéticos. Pessoas magras também têm hipertensão, caso seja sedentária, se alimente de forma incorreta e tenha predisposição genética.
Hipertenso deve beber mais água que indivíduos que têm níveis normais. Na verdade, a quantidade ingerida deve ser individualizada e não está relacionada ao aumento da pressão. Recomenda-se tomar, diariamente, de 35 ml a 45 ml por quilo de peso.
Tabagismo aumenta a pressão arterial. O fumo especificamente não tem relação com a hipertensão, mas com a aterosclerose, que se caracteriza pela formação de placas de gordura na parede das artérias do coração.
Se não tenho pressão alta, posso consumir bebida alcoólica sem restrição. Ingerir álcool cronicamente —além de duas latas de cerveja, 300 ml de vinho ou 40 ml de destilado, por dia— aumenta a chance de ter elevação do nível.
Hipertenso não deve fazer exercício físico de alto impacto. É permitido se a pressão estiver controlada, para evitar um pico muito elevado, o que pode ser perigoso.
Vegetarianos e veganos têm menos chance de se tornar hipertensos. Não necessariamente a alimentação de quem não come carne é mais saudável. O importante é controlar a quantidade de sal. Nada adianta comer verduras e legumes com molho de soja industrializado, que contêm alto índice de sódio na composição.
O consumo de canela, pimenta e café é prejudicial. Pelo contrário, canela e pimenta estão relacionadas à liberação de óxido nítrico, que dilata os vasos sanguíneos e aumenta o fluxo sanguíneo para os músculos, ou seja, tem uma característica vasodilatadora. Portanto, o consumo adequado é benéfico. Já o café, em excesso, pode ser prejudicial a indivíduos predispostos à hipertensão. Recomendação: três xícaras ao dia.
Verdades
É mais recorrente em pessoas com mais de 60 anos. A prevalência é maior em indivíduos desta faixa etária. Cerca de 30% da população adulta têm hipertensão. Em idosos, a estimativa dobra. Mas atenção, os jovens também podem ter pressão alta, dependendo dos fatores hereditários e da qualidade de vida.
Homem tem mais tendência a ser hipertenso. Realmente, a condição é mais comum naqueles entre 40 e 50 anos, pois são, geralmente, mais estressados, obesos e sedentários. Ou seja, as causas são mais comportamentais do que fisiológicas.
A gestante pode se tornar hipertensa durante a gravidez. A grávida, devido a alterações hormonais e imunológicas, pode desenvolver hipertensão, o que é conhecido por Doença Hipertensiva Específica da Gravidez (DHEG). Casos extremos podem levar à eclampsia. Na maior parte dos casos, o nível volta à normalidade uma vez terminada a gestação.
A pressão arterial aumenta na menopausa. A prevalência de mulheres hipertensas se eleva devido à perda da proteção do hormônio estrógeno, que é um protetor e aliado do coração, por estimular a dilatação dos vasos e facilitar o fluxo sanguíneo.
Sofrer de distúrbio do sono é perigoso: a apneia é uma das principais causas de pressão alta, se não considerada a genética. O distúrbio, que significa parada de respiração, provoca a retenção de mais sal e o aumento da atividade do sistema nervoso simpático, que causa a constrição dos vasos sanguíneos.
Fazer sexo eleva a pressão arterial. Durante a relação sexual, a pressão sobe na proporção do esforço, o que é considerado uma resposta normal do organismo. No entanto, precisa ser controlada com medicamento, para evitar picos de alta.
Ansiedade e estresse ajudam a aumentar o nível de pressão: o estado de irritabilidade tem componentes relacionados à descarga de adrenalina, que desencadeia a elevação da pressão arterial.
O açúcar não interfere na regulação da pressão arterial: porém, a restrição do consumo é importante para evitar a obesidade e o sobrepeso, que são fatores causadores de hipertensão.
Chá verde, vegetais de folhas escuras e chocolate auxiliam no controle da pressão: berinjela, hortaliças e vegetais verdes são ricos em potássio. O aumento do consumo do mineral na dieta está associado ao melhor controle da hipertensão e à prevenção de doenças cardíacas. Assim como o chocolate amargo (70% de cacau), ácidos graxos, como o ômega 3, encontrado em peixes, fibras em aveia, cevada, feijão, grão-de-bico, lentilha e ervilha e, de novo, o chá verde.
Fontes: Fernando Costa, diretor de promoção da saúde cardiovascular da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia); Marcelo Paiva, cardiologista do Hospital 9 de Julho (SP); Marcelo Franken, cardiologista da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein (SP); Décio Mion, nefrologista e responsável pelo setor de monitorização ambulatorial da pressão arterial do Hospital Sírio-Libanês (SP).
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