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Larissa Cassiano

Sexo anal não precisa ser um tabu: sexualidade humana faz parte da saúde

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Imagem: Getty Images
Larissa Cassiano

Larissa Cassiano é médica ginecologista e obstetra, especializada em gestação de alto risco pela USP (Universidade de São Paulo). Fez residência médica na Maternidade de Vila Nova Cachoeirinha (SP), uma das maiores do Brasil, referência em parto humanizado no SUS e em gestação de alto risco.

Colunista do UOL

12/01/2021 04h00

Educação sexual é um tema sensível para muitas pessoas, abordar algo que mistura prazer, responsabilidade, intimidade e, em alguns casos, questões religiosas, não é fácil, mas isso não deve ser um pretexto para não falar e dentro desse tema, talvez o sexo anal seja ainda mais tabu na vida sexual de muitas pessoas.

As relações sexuais podem integrar o corpo todo, não apenas genitais e penetração, assim conhecendo outras possibilidades, sensações, o próprio corpo, o corpo do outro, o que dá prazer para si e para o outro é possível viver o prazer sexual das melhores formas possíveis. Além disso, descobrir o que traz ou não prazer é essencial. Nem todas as práticas sexuais serão prazerosas para todos e não há nada errado em não sentir prazer com uma ou outra prática.

Vinícius Borges, infectologista responsável pelo Instagram @doutormaravilha, que aborda assuntos de infectologia, saúde LGBT+ e sexualidade, traz informações sobre o tema, segundo ele: "O sexo anal é uma prática sexual saudável, realizada tanto por pessoas LGBT quanto heterossexuais cisgêneros. Como a região anal não possui lubrificação natural, como a vagina, há chance de pequenos sangramentos e fissuras, que aumentam o risco para transmissão de HIV e ISTs (infecções sexualmente transmitidas). Nenhum sexo é arriscado. Tudo depende da maneira como você o realiza: opte pela maneira protegida. Sempre respeite seus limites de dor e desconforto e, a qualquer problema, procure um profissional coloproctologista".

Para quem deseja ter relações sexuais anais o primeiro ponto é ter paciência. Antes de iniciar o sexo anal, prepare o canal anal, permita que o ânus esteja relaxado, isso já pode ser suficiente para alterar a perspectiva de muitas pessoas.

Como dito anteriormente, a lubrificação é outro ponto fundamental para o sexo anal, como a região não tem lubrificação natural a aplicação de um lubrificante deve ser tanto no pênis ou no objeto sexual que será penetrado, como no ânus, em grande quantidade, mas atenção para quem utiliza preservativo, o lubrificante deve ser a base de água e não óleo, pois o óleo afeta o preservativo e pode rompê-lo, além de evitar produtos com anestésicos, pois durante a penetração a perda da sensibilidade pode ocultar alguma fissura.

A posição também influencia e iniciar na posição lateral é outra maneira de deixar a relação mais prazerosa e anatômica. Depois com relaxamento e lubrificante mais espalhado outras posições podem ser utilizadas.

As relações sexuais anais podem ser o meio para algumas infeções por bactérias e vírus. A higiene é uma das formas de proteção, e deve ser feita com produtos que não causem pressão para evitar fissuras e outros contratempos, utilizar seringas vendidas em farmácias pode ser uma boa opção.

Casais que praticam sexo vaginal e anal devem trocar de preservativo ao variar durante uma mesma relação, sempre evitando que o mesmo preservativo seja utilizado no ânus e depois na vagina.

Comparado com outras práticas sexuais, o sexo anal possui maior risco de transmissão do HIV, por isso, para reduzir esse risco, a utilização de preservativo é importante, conversar com o parceiro ou parceira sobre a realização de exames para investigação de uma possível infecção sexualmente transmissível também faz parte da proteção sexual para casais em que isso é possível.

Hoje as pessoas que desejarem reduzir os riscos, podem utilizar a PrEP (profilaxia pré-exposição), medicação de uso diário para reduzir os riscos da infecção pelo HIV, fornecida pelo sistema público de saúde gratuitamente.

Já para quem teve relações e não utilizou preservativo, teve algum acidente com o preservativo ou se sentiu em risco após a relação, é possível utilizar o PEP (profilaxia pós-exposição), conjunto de medicamentos utilizado até 72 horas após a relação sexual para reduzir a possibilidade de infecção pelo HIV.

O sexo anal não precisa ser um mito ou tema polêmico, a sexualidade humana faz parte da saúde do indivíduo e ter informações pode ser o primeiro passo para uma vida sexual saudável.

Gostou deste texto? Dúvidas, comentários, críticas e sugestões podem ser enviadas para: dralarissacassiano@uol.com.br

Referências:

Relaciones sexuales anales y el riesgo de VIH- National Center for HIV/AIDS, Viral Hepatitis, STD, and TB Prevention- CDC - 2016;

Manual Sobre Salud Sexual Anorrectal, Centro Nacional para la Prevención y el Control del VIH/SIDA CENSIDA Herschel Nº 119, México- 2008.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.