Tadalafila: o que é, para que serve, como tomar e efeitos colaterais
Cristina Almeida
Colaboração para VivaBem
21/09/2023 11h11
Disponível no mercado desde o início dos anos 2000, a tadalafila (ou tadalafil, em inglês) foi o primeiro medicamento de uso oral indicado para a disfunção erétil cujo efeito era capaz de durar por mais de 36 horas.
O que é tadalafila?
Trata-se de um medicamento que é classificado como inibidor reversível, potente e seletivo da fosfodiesterase 5 (PDE5). Dadas as suas características, esse medicamento só deve ser utilizado sob prescrição médica.
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Em quais situações esse medicamento deve ser usado?
Este fármaco é utilizado há quase 20 anos e seus efeitos são bastante conhecidos. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e pelo tempo estipulado pelo seu médico.
A medicação pode ser indicada nas seguintes situações:
- Dificuldade de obtenção e/ou manutenção da ereção do pênis (disfunção erétil)
- Aumento da próstata que se caracteriza pelo aumento da frequência urinária, micção intermitente e esforço para urinar (hiperplasia prostática benigna)
Entenda como ele funciona
Ao ser administrado pela via oral, o medicamento é absorvido e metabolizado pelo fígado, depois é excretado pela via fecal e urinária.
Para entender como ele age no seu corpo, antes é preciso conhecer como se dá a ereção peniana: ela decorre de um processo neurovascular que se inicia por meio do estímulo sexual e promove a liberação do óxido nítrico (NO) nas artérias existentes nos corpos cavernosos do pênis.
Isso eleva os níveis intracelulares de monofosfato de guanosina cíclico (GMPc), o que provoca o relaxamento muscular e vascular dos corpos cavernosos, favorecendo a passagem sanguínea e o enrijecimento do pênis.
Para que os níveis do GMPc não permaneçam indefinidamente altos e a ereção não se prolongue demais, o GMPc é naturalmente degradado pela enzima fosfodiesterase tipo 5. As explicações são do farmacêutico Leonardo Coutinho Ribeiro.
"A tadalafila, como inibidor da enzima fosfodiesterase tipo 5, promove o relaxamento da musculatura local e restabelece o mecanismo de ereção em homens com disfunção erétil por meio do aumento dos níveis de GMPc", acrescenta o especialista.
Quando se somam disfunção erétil e o aumento benigno da próstata, o medicamento também promove o relaxamento da musculatura da glândula, da bexiga e dos vasos sanguíneos, reduzindo o estreitamento da uretra, e diminuindo os sintomas do aumento do órgão.
Por quanto tempo dura o efeito?
Espera-se que os efeitos desejados ocorram já após 30 minutos da administração do medicamento, o que pode se estender por até 36 horas.
No entanto, o fabricante adverte que a tadalafila só promove a ereção quando há estimulação sexual. Sem esta, o fármaco, sozinho, não leva à ereção.
Riscos do uso prolongado
O medicamento é considerado bastante seguro. No entanto, ele só deve ser utilizado sob orientação médica e quando, realmente, ele possa ser útil.
Alguns homens jovens utilizam a tadalafila sem diagnóstico de disfunção erétil, fazendo-o apenas com o objetivo de melhora da performance. O risco dessa prática é que, a longo prazo, pode se estabelecer uma "dependência psicológica", ou seja, a ereção só vai acontecer junto ao uso do remédio.
Tomei a tadalafila e ela não fez efeito. O que pode ser?
A tadalafila é a primeira estratégia de tratamento da disfunção erétil. Se, após algumas tentativas, e mesmo com a presença do estímulo sexual, não houver a resposta esperada é preciso informar seu médico sobre o ocorrido.
Somente ele poderá avaliar o quadro e oferecer outras alternativas terapêuticas.
Conheça as apresentações disponíveis
Cialis® é a marca de referência da tadalafila, mas você pode encontrar as versões genéricas desse medicamento. Ele está disponível em comprimidos revestidos de 5 mg e 20 mg.
Quais são as vantagens e desvantagens desse medicamento?
De acordo com Rodolfo Borges dos Reis, professor de urologia do Departamento de Cirurgia e Anatomia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, o maior benefício dos medicamentos como a tadalafila é que eles foram responsáveis por uma mudança comportamental, trazendo melhora da qualidade de vida para muitos casais.
"Destaco ainda a liberdade de não ter de programar uma relação, o que se deve ao seu efeito prolongado, o que também o diferencia de outros fármacos", completa o médico. Outra vantagem é o esquema de doses —ele pode ser usado diariamente ou por demanda, ou seja, ao saber que terá uma relação sexual no final de semana, você pode usá-lo na sexta e no sábado, por exemplo.
O ponto negativo fica por conta do uso indiscriminado por jovens saudáveis.
Saiba quais são as contraindicações
O fármaco não pode ser usado por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenha tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro componente de sua fórmula.
Fique também atento na presença das seguintes condições:
- Uso de tabaco
- Ereções por tempo maior que 4 horas
- Desidratação
- Doenças pulmonares
- Qualquer doença que altere o formato do pênis
- Diabetes
- Colesterol alto
- Pressão alta ou baixa (hipertensão ou hipotensão)
- Problemas no coração (arritmia, infarto etc.)
- AVC (Acidente Vascular Cerebral)
- Problemas com as células do sangue (doenças falciformes)
- Mieloma
- Leucemia
- Doenças ocular, no fígado ou rins
- Gravidez e amamentação (para os casos de mulheres com hipertensão pulmonar)
- Intolerância à lactose
Idosos podem usá-lo?
Sim, desde que não haja contraindicações nem interações com medicamentos de uso contínuo. Os especialistas apenas sugerem que o uso da tadalafila só ocorra após avaliação médica para que se possa usufruir do melhor que o remédio pode oferecer.
Como devo tomar a tadalafila?
Todos os medicamentos com o perfil da tadalafila devem ser tomados, de preferência, com o estômago vazio.
Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?
A depender do quadro da disfunção erétil seu médico indicará o melhor esquema de doses, que poderá ser diário ou por demanda.
O que faço quando esquecer de tomar o remédio?
Como ele pode ser usado por demanda, não há problema de esquecimento. Mas quando o uso é diário, você deve tomá-lo assim que se lembrar. Nunca dobre a administração e respeite a dose máxima diária indicada pelo seu médico que, em geral, é 20 mg.
Já quando a indicação é o aumento de próstata benigno, o melhor a fazer é tomar a dose quando se lembrar. Caso o horário da dose seguinte esteja próximo, pule a dose esquecida e reinicie o tratamento na hora certa. O importante é evitar tomar dois comprimidos de uma vez. Se você sempre esquece de tomar seus remédios, utilize algum tipo de alarme, como o do celular.
Quais são os possíveis efeitos colaterais?
Este medicamento é considerado bem tolerado, seguro e eficaz quando usado em doses adequadas. Apesar disso, os efeitos colaterais mais comuns são: dor de cabeça, indigestão ou azia, náusea, diarreia, dor de estômago, nas costas, músculos, pernas e braços, tosse, vermelhidão (rubor) e congestão nasal.
Embora seja mais raro, poderão ser observadas algumas das seguintes manifestações:
- Perda, redução ou mudança repentina da visão
- Visão turva
- Mudança repentina na capacidade de ouvir
- Zumbido no ouvido
- Ereção por tempo superior a 4 horas
- Tontura
- Dor no peito
- Irritação na pele
Interações medicamentosas
Algumas medicações não combinam com a tadalafila. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito. Avise o médico, o farmacêutico ou o dentista, caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas, que são apenas alguns exemplos dessas possíveis interações. Confira:
- Outros medicamentos para hipertensão pulmonar (riociguate)
- Alfa-agonistas (usado na hipertensão como a clonidina, metildopa)
- Alfa-bloqueadores (indicado no aumento de próstata benigno como a alfuzosina, doxazosina, tansulosina ou terazosina)
- Antibióticos (claritromicina, eritromicina, metronidazol, norfloxacina, rifampicina etc.)
- Antidepressivos (desipramina ou sertralina)
- Antifúngicos (itraconazol, cetoconazol ou voriconazol)
- Antiepilépticos (carbamazepina, oxcarbazepina, fenobarbital, fenitoína ou primidona)
- Outros fármacos para a disfunção erétil (alprostadil, sildenafil, vardenafil)
- Medicamentos para o coração (atenolol, captopril, clonidina, losartana, propranolol etc.)
- Medicações para hepatite (boceprevir e simeprevir)
- Medicamentos para HIV (tazanavir, delavirdina, efavirenz, indinavir, etravirina, ritonavir, nevirapina, saquinavir ou tipranavir)
- Antiácidos (hidróxido de magnésio ou hidróxido de alumínio)
O uso de tadalafila é contraindicado para pacientes que fazem tratamento com medicamentos da classe dos nitratos, grupo de medicamentos muito usados no tratamento da angina. A associação desses medicamentos pode resultar em hipotensão grave com risco de morte. Veja alguns exemplos desses fármacos:
- Propatilnitrato
- Nitroglicerina
- Dinitrato de isossorbitol
Embora não existam dados na literatura médica sobre interação com suplementos ou fitoterápicos, caso faça uso de algum deles, informe ao médico, ao farmacêutico antes de iniciar o tratamento com a tadalafila.
Interação com o álcool
A sugestão dos especialistas é que você informe seu médico sobre o consumo do álcool durante o tratamento com a tadalafila. Quando o uso é excessivo (5 copos de vinho ou 5 shots de uísque por exemplo), são esperados efeitos hipotensivos, fala Marcos Machado, farmacêutico e bioquímico especialista em análises clínicas e presidente do CRF-SP.
"Isso significa que pode haver queda da pressão, chamada hipotensão ortostática, que acontece quando você passa da posição sentado ou deitado para a de pé. Além disso, a prática poderia aumentar o risco para efeitos colaterais como dor de cabeça, tontura e até desmaio ao tentar se levantar", acrescenta Machado.
Interação com alimentos
Embora não seja muito comum consumir toranja (grapefruit) no Brasil, ela pode alterar o modo como a tadalafila funciona.
Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:
- Observe a validade do medicamento indicado no cartucho. Lembre-se: após a abertura, alguns fármacos têm tempo de validade menor, o que também é influenciado pela forma como você o armazena;
- Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
- Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta;
- Em caso de cápsulas, não as abra para colocar o conteúdo em água, alimentos ou mesmo para descartar. Sempre use a cápsula íntegra;
- No caso de suspensões orais, agite bem o frasco antes de usar. E sempre limpe o copo dosador antes e após o uso. E armazene junto ao frasco do medicamento, para evitar misturar com outros medicamentos;
- Prefira comprar remédios nas doses justas para o uso indicado para evitar sobras;
- Respeite o limite da dosagem diária indicada na bula;
- Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
- Guarde seus remédios em compartimentos altos. A ideia é dificultar o acesso às crianças;
- Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
- Evite descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.
O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.
Fontes: Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia em São Paulo); Leonardo Coutinho Ribeiro, farmacêutico, especialista em farmácia clínica e análises clínicas; doutorando em assistência farmacêutica, trabalha na Unidade de Farmácia Clínica e Dispensação Farmacêutica do HUCAM-UFES (Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes da Universidade Federal do Espírito Santo); Marcos Machado, farmacêutico e bioquímico especialista em análises clínicas e presidente do CRF-SP, farmacêutico e bioquímico especialista em análises clínicas; Rodolfo Borges dos Reis, professor de urologia do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) e responsável pelo Programa de Cirurgia Robótica do Hospital das Clínicas da mesma instituição. Revisão técnica: Amouni Mourad.
Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).